O universo inteiro poderia ter uma mente interna, ou talvez a própria ideia de consciência seja uma farsa. A divergência entre os cientistas é grande e o debate continua acalorado.
Imagine por um momento que a cadeira em que você está sentado, feita de partículas minúsculas, tenha algum tipo de experiência básica. E se lhe dissermos que a planta ao lado de sua cadeira, assim como seu cérebro e as paredes ao seu redor, possuem uma mente própria? E se o mundo não fosse apenas um cenário inanimado para você, o portador de uma alma, atuar, mas estivesse tão vivo quanto você? Isso é conhecido como “panpsiquismo”, a teoria de que tudo possui uma mente ou algo semelhante.
O panpsiquismo não é uma ideia nova. O filósofo italiano Francesco Patrizi cunhou o termo no século XVI, combinando as palavras gregas para “tudo” (παν) e “alma” ou “mente” (ψυχή), descrevendo uma singularidade presente em toda a criação. A noção remonta à Grécia Antiga, com o filósofo Tales de Mileto proclamando que “tudo está cheio de deuses”, e Platão, que via o mundo como um ser vivo com alma e inteligência.
No século XIX, o panpsiquismo ressurgiu no Ocidente, promovido por filósofos como Arthur Schopenhauer e o pai da psicologia moderna, William James. Mas então veio o positivismo lógico, um movimento filosófico do século XX que rejeitava tudo que não fosse empiricamente verificável, relegando o panpsiquismo ao esquecimento.
A dificuldade das ciências empíricas em elucidar o porquê e o como da matéria originar experiências conscientes reacendeu o interesse pelo panpsiquismo, assim como os progressos em neurociência, psicologia e física quântica. Em 2004, Giulio Tononi, neurocientista e psiquiatra italiano, apresentou a teoria da informação integrada, sugerindo que a consciência é um fenômeno generalizado, presente até em sistemas simples.
Dez anos mais tarde, Christof Koch, neurocientista americano, questionou o materialismo e a ideia de que a consciência emerge do físico, contrapondo-se ao axioma “ex nihilo nihil fit” – nada surge do nada. Koch defendeu que, assim como as partículas elementares possuem ou não carga, a consciência surge onde há matéria organizada.
Por outro lado, Keith Frankish, filósofo na Universidade de Sheffield, vê o panpsiquismo como um “limbo metafísico”, fruto da “despsicologização da consciência”, onde se tenta entender a consciência por percepções sensoriais ou experiências diretas, ignorando sua função psicológica. Ele sugere que, se a consciência não está atrelada apenas aos processos cerebrais, poderia não ser exclusiva dos cérebros, levantando a hipótese de uma consciência intrínseca a tudo. Contudo, Frankish alerta que essa perspectiva pode diminuir a relevância da consciência, questionando sua influência nas reações e comportamentos.
Em meio a tantas teorias e opiniões divergentes, a questão da consciência continua sendo um mistério intrigante e desafiador. Enquanto alguns defendem a ideia de que tudo, desde um grão de areia até o sol, possui alguma forma de consciência, outros argumentam que a consciência humana é apenas uma ilusão. Essas perspectivas nos convidam a refletir sobre a natureza da nossa própria consciência e seu papel no universo. No final das contas, a questão da consciência permanece tão complexa e fascinante quanto sempre foi, nos lembrando da vastidão do desconhecido que ainda nos aguarda.