Um projeto ambicioso que visa mapear o cérebro humano em detalhes acaba de publicar 21 estudos com base em cinco anos de pesquisa.
Os cientistas envolvidos na Iniciativa BRAIN, financiada pelos Estados Unidos, usaram técnicas avançadas para analisar amostras de tecido cerebral congelado de humanos, primatas não humanos e camundongos.
O objetivo é identificar os tipos e subtipos de células cerebrais em diferentes regiões e espécies, e entender como elas se relacionam entre si e com as funções cerebrais. Os pesquisadores esperam que isso possa ajudar a desvendar os mistérios da cognição, da personalidade e das doenças neurológicas.
Os estudos, publicados na revista Nature e em outras publicações científicas, revelaram uma grande diversidade celular nas estruturas mais antigas e profundas do cérebro, que são responsáveis por processos básicos como a respiração, o sono e o equilíbrio. Eles também encontraram que algumas categorias de células são compartilhadas por várias regiões, enquanto outras são exclusivas de certas partes do órgão.
Os pesquisadores identificaram mais de 3,3 mil tipos de células cerebrais em adultos e indivíduos em desenvolvimento, usando uma técnica chamada sequenciamento de RNA. Essa técnica permite medir a expressão dos genes nas células, ou seja, quais genes estão ativos ou inativos em cada momento.
Além disso, eles usaram uma técnica de microscopia chamada seqFISH para visualizar a localização espacial das células no tecido cerebral. Essa técnica permite marcar as moléculas de RNA com cores fluorescentes, criando imagens tridimensionais das células.
Os resultados mostram que o cérebro humano é muito mais complexo do que se pensava anteriormente, e que há muitas diferenças entre as espécies. Por exemplo, os pesquisadores descobriram que os humanos têm um tipo de célula chamada astroglia radial que não foi encontrado em outros primatas ou camundongos. Essas células estão envolvidas na formação das conexões entre os neurônios durante o desenvolvimento.
Os pesquisadores também observaram que os camundongos têm um tipo de célula chamada oligodendrócito perinuclear que não foi encontrado em humanos ou outros primatas. Essas células produzem a mielina, uma substância que isola os axônios dos neurônios e facilita a transmissão dos impulsos nervosos.
Os estudos podem ter implicações importantes para a compreensão das doenças cerebrais mal compreendidas, como o autismo, a esquizofrenia e o Alzheimer. Os pesquisadores esperam que ao identificar os tipos de células afetados por essas condições, eles possam desenvolver tratamentos mais eficazes e personalizados.
O projeto Iniciativa BRAIN continua em andamento, buscando aumentar a resolução e a cobertura dos cérebros de humanos e primatas não humanos. Os dados gerados pelos estudos estão disponíveis para a comunidade científica em plataformas online.