As ondas de calor extremo são fenômenos climáticos que se caracterizam por períodos prolongados de temperaturas muito acima da média, que podem causar sérios danos à saúde, à agricultura, à biodiversidade e à infraestrutura.
Nos últimos anos, esses eventos têm se tornado cada vez mais frequentes e intensos, em decorrência das mudanças climáticas provocadas pela emissão de gases de efeito estufa na atmosfera.
Um exemplo recente de onda de calor extremo ocorreu no Brasil, entre os dias 10 e 14 de novembro de 2023, quando as temperaturas ultrapassaram os 40°C em várias cidades do país, especialmente no Sudeste e no Centro-Oeste. Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), esse foi o episódio mais quente registrado no Brasil desde o início das medições, em 1961. A onda de calor foi causada por uma massa de ar quente e seco que se estabeleceu sobre o território brasileiro, impedindo a entrada de frentes frias e de umidade. Além do desconforto térmico, a onda de calor também agravou a situação dos incêndios florestais, que já haviam consumido mais de 10 milhões de hectares de vegetação nativa em 2023, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
Outras regiões do mundo também sofreram com ondas de calor extremo nos últimos meses. Na Europa, uma massa de ar quente vinda do norte da África provocou temperaturas recordes em vários países, como Espanha, Itália, França e Grécia, entre os dias 15 e 18 de julho de 2023. Na Catalunha, na Espanha, foi registrado o dia mais quente da história, com mais de 45°C. Na Itália, os termômetros chegaram a 48,8°C na ilha da Sardenha, a temperatura mais alta já medida na Europa. A onda de calor também causou incêndios devastadores na Grécia, que queimaram mais de 100 mil hectares de florestas e campos, e obrigaram a evacuação de milhares de pessoas.
Nos Estados Unidos, a onda de calor que atingiu o sudoeste do país entre os dias 10 e 16 de julho de 2023 foi considerada a mais intensa e duradoura dos últimos 70 anos, segundo o Serviço Meteorológico Nacional dos Estados Unidos (NWS). As temperaturas superaram os 50°C em algumas áreas, como na Califórnia e no Arizona, e causaram centenas de mortes por hipertermia, desidratação e insolação. A onda de calor também afetou a produção de energia elétrica, que teve que ser racionada em alguns estados, e agravou a seca que já assola a região há mais de uma década.
No Japão, a onda de calor que ocorreu entre os dias 12 e 16 de agosto de 2023 foi a mais severa desde que o país começou a registrar as temperaturas, em 1880. A temperatura máxima chegou a 47,3°C na cidade de Kumagaya, na província de Saitama, e a média nacional foi de 35,8°C. A onda de calor coincidiu com a temporada de chuvas intensas, que provocaram inundações e deslizamentos de terra em várias partes do país. Mais de 200 pessoas morreram e mais de 50 mil foram hospitalizadas por causa do calor e das chuvas.
As projeções para as próximas ondas de calor são alarmantes. Segundo o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), as ondas de calor devem se tornar mais frequentes, intensas e longas em todo o mundo, à medida que a temperatura média global aumenta. O IPCC estima que, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem no ritmo atual, a temperatura média global pode subir até 4,8°C até o final do século, em relação ao período pré-industrial. Nesse cenário, as ondas de calor podem ocorrer em até 74% da superfície terrestre, e durar até 40 dias por ano, em média.
As consequências das ondas de calor para a humanidade e para o planeta são graves. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as ondas de calor são responsáveis por mais de 60 mil mortes por ano no mundo, principalmente entre os idosos, as crianças, os doentes crônicos e os pobres. As ondas de calor também aumentam o risco de doenças infecciosas, como a dengue, a malária e a cólera, que se propagam mais facilmente com o calor e a umidade. Além disso, as ondas de calor afetam a produção de alimentos, a qualidade da água, a biodiversidade, a economia e a segurança. As ondas de calor podem reduzir a produtividade agrícola, causar escassez de água potável, provocar a extinção de espécies, gerar conflitos sociais e políticos, e aumentar a migração forçada de pessoas.
Diante desse cenário, é urgente que os governos, as empresas e a sociedade civil tomem medidas para mitigar as emissões de gases de efeito estufa e para se adaptar aos efeitos das ondas de calor. Algumas ações possíveis são: investir em energias renováveis, como a solar e a eólica, reduzir o consumo de combustíveis fósseis, como o petróleo e o carvão, promover a eficiência energética, como o uso de lâmpadas LED e de aparelhos de ar condicionado mais econômicos, incentivar o transporte público, a bicicleta e a caminhada, como alternativas ao carro, preservar e restaurar as florestas, os manguezais e as turfeiras, que funcionam como sumidouros de carbono, implantar sistemas de alerta precoce, de monitoramento e de assistência às populações vulneráveis, como os idosos, os doentes e os sem-teto, criar áreas verdes, como parques, jardins e telhados verdes, que reduzem o efeito ilha de calor nas cidades, e conscientizar a população sobre os riscos e as formas de prevenção das ondas de calor, como se hidratar, se proteger do sol e evitar atividades físicas intensas nos horários mais quentes do dia.
As ondas de calor extremo são um dos maiores desafios que a humanidade enfrenta no século XXI. Elas são um sinal de que o planeta está sofrendo as consequências das nossas ações, e de que precisamos mudar os nossos hábitos e as nossas políticas, antes que seja tarde demais. As ondas de calor são uma ameaça à nossa saúde, à nossa segurança e ao nosso futuro, mas também são uma oportunidade para nos unirmos em prol de um mundo mais sustentável, justo e solidário.