Um novo estudo publicado na revista científica Lancet Planetary Health revela que os atores financeiros, como bancos, fundos de investimento e investidores públicos, têm um papel importante, mas muitas vezes ignorado, para ajudar a prevenir o surgimento de novas doenças infecciosas que podem se espalhar de animais para humanos, como a COVID-19.
Os pesquisadores identificaram empresas públicas e privadas que operam em setores econômicos associados a riscos aumentados de doenças infecciosas emergentes e reemergentes, especialmente as zoonóticas, que são causadas por vírus, bactérias ou parasitas que saltam de animais para humanos. Esses setores incluem agricultura, pecuária, mineração, extração de madeira e comércio de vida selvagem.
Os pesquisadores também analisaram as entidades financeiras que possuem participação acionária nessas empresas, e descobriram que uma parte significativa dos investimentos vem de entidades financeiras sediadas nos Estados Unidos, como Vanguard, State Street, BlackRock e T Rowe Price. Mas mesmo investidores públicos, como o estado da Califórnia, a Noruega por meio de seu Fundo Soberano e a Suécia por meio de seus fundos de pensão, possuem ações em empresas que operam em regiões de alto risco para o surgimento de doenças infecciosas.
O estudo também apresentou um mapa global de hotspots regionais para o surgimento de doenças infecciosas, baseado em dados de biodiversidade, desmatamento, expansão agrícola e comércio de vida selvagem. Os hotspots são áreas onde há uma maior probabilidade de contato entre humanos e animais silvestres, e consequentemente, uma maior chance de transmissão de patógenos. Os pesquisadores destacaram que muitos desses hotspots coincidem com regiões onde há uma alta demanda por alimentos, energia e recursos naturais, e onde há uma baixa capacidade de resposta aos surtos de doenças.
Os autores do estudo argumentam que os atores financeiros têm uma grande responsabilidade e oportunidade de ajudar a prevenir o surgimento de novas doenças infecciosas, que podem ter impactos devastadores na saúde, na economia e na segurança globais. Eles sugerem que esses atores financeiros devem garantir que seus investimentos ajudem a mitigar e se adaptar aos riscos associados às atividades econômicas que afetam a saúde dos ecossistemas e da vida selvagem.
Para isso, os pesquisadores listam uma série de políticas e práticas que os investidores podem adotar ou incentivar, como:
- Promover a restauração ecológica de áreas degradadas, como florestas, savanas e pastagens, que podem servir como barreiras naturais contra a transmissão de patógenos.
- Apoiar a criação de sistemas de monitoramento e vigilância de patógenos em animais silvestres e domésticos, que podem alertar precocemente sobre o surgimento de novas ameaças à saúde humana.
- Incentivar a adoção de padrões de sustentabilidade ambiental e social nas cadeias produtivas, que podem reduzir a pressão sobre os recursos naturais e a biodiversidade, e melhorar as condições de vida e trabalho das populações locais.
- Integrar os riscos de doenças infecciosas nas análises de investimento e nas decisões de alocação de capital, que podem levar em conta os custos e benefícios de longo prazo das atividades econômicas para a saúde humana e planetária.
Os pesquisadores concluem que os atores financeiros têm um papel vital na promoção de uma economia mais sustentável e responsável, que possa prevenir o surgimento de novas pandemias e proteger a saúde e o bem-estar de todos.