Uma equipe de cientistas japoneses descobriu uma nova forma de tratar o diabetes em camundongos, usando luz para estimular os nervos que se conectam ao pâncreas.
O método, publicado na revista Nature Biomedical Engineering, mostrou que a estimulação nervosa pode melhorar a função e aumentar o número de células que produzem insulina, o hormônio que regula o açúcar no sangue.
O diabetes é uma doença crônica que afeta milhões de pessoas no mundo todo. Ela ocorre quando o organismo não consegue produzir ou usar adequadamente a insulina, o que leva a um acúmulo de glicose no sangue. A falta de insulina é causada pela diminuição ou destruição das células beta do pâncreas, que são as únicas que podem sintetizar esse hormônio.
Os pesquisadores, liderados pelo professor Junta Imai, da Universidade de Tohoku, usaram uma técnica chamada optogenética, que consiste em manipular geneticamente as células nervosas para que elas respondam à luz. Assim, eles conseguiram estimular individualmente o nervo vago que leva ao pâncreas em camundongos, sem afetar outros nervos ou órgãos.
Os resultados foram surpreendentes. Os pesquisadores observaram que a estimulação nervosa levou a um aumento significativo na quantidade de insulina no sangue quando o açúcar foi administrado, indicando uma melhora na função das células beta. Além disso, a estimulação nervosa por duas semanas mais que dobrou o número original de células beta. Esses efeitos foram confirmados por medições de glicose no sangue e de insulina no pâncreas.
Os pesquisadores também testaram o método em camundongos com diabetes induzida por estreptozotocina, uma substância que destrói as células beta. Eles verificaram que a estimulação nervosa regenerou as células beta e melhorou o diabetes nesses camundongos. Esse foi o primeiro tratamento bem-sucedido de diabetes em camundongos por estimulação nervosa.
O professor Imai explica que o nervo vago é o décimo nervo craniano e faz parte do sistema nervoso autônomo, que regula funções involuntárias do corpo, como a frequência cardíaca, a respiração e a digestão. Ele diz que o nervo vago tem um papel importante na comunicação entre o cérebro e o pâncreas, e que a estimulação nervosa pode ativar mecanismos de reparo e crescimento das células beta.
A optogenética é uma ferramenta revolucionária na neurociência, que permite controlar a atividade de células nervosas específicas com luz. Ela foi desenvolvida por um grupo de pesquisadores liderado por Karl Deisseroth, da Universidade de Stanford, em 2005. Desde então, ela tem sido usada para estudar diversos aspectos do funcionamento do cérebro, como a memória, a emoção e o comportamento.
Os pesquisadores esperam que o método possa ser aplicado em humanos no futuro, mas reconhecem que há desafios a serem superados, como a segurança e a eficácia da manipulação genética e da estimulação nervosa. Eles também pretendem investigar os mecanismos moleculares envolvidos na regeneração das células beta e na melhora da função da insulina.
O estudo é um avanço na busca por novas terapias para o diabetes, que atualmente depende de medicamentos, injeções de insulina ou transplantes de células ou de pâncreas. A estimulação nervosa pode oferecer uma alternativa mais simples e efetiva, que pode restaurar a capacidade do organismo de produzir e usar a insulina de forma natural.