Como o cérebro humano consegue entender e produzir a linguagem, esse sistema complexo de símbolos e regras que usamos para nos comunicar?
E o que aconteceria se uma parte do cérebro responsável pela linguagem fosse danificada ou removida? Essas são algumas das questões que intrigam os neurocientistas, os cientistas que estudam o funcionamento do cérebro e do sistema nervoso.
Para tentar responder a essas perguntas, uma equipe internacional de neurocientistas, liderada pelos professores Matthew Howard III e Christopher Petkov, da Universidade de Iowa, realizou um experimento raro e inovador, que foi publicado na revista científica Proceedings of the National Academy of Sciences. O experimento consistiu em obter os primeiros registros diretos da atividade cerebral de pacientes que tinham que passar por uma cirurgia para remover um tumor cerebral que afetava uma área chamada giro temporal médio posterior (pMTG), localizada na parte lateral do cérebro.
O pMTG é considerado um centro neural para o significado da linguagem, ou seja, uma área que tem muitas conexões com outras áreas do cérebro e que ajuda a coordenar a atividade cerebral necessária para entender e responder à fala. Os centros neurais são como os centros de uma roda de bicicleta, de um aeroporto ou de um café, que conectam e organizam as partes que saem ou chegam deles. No entanto, a existência e a necessidade de centros neurais específicos para certas funções cerebrais têm sido controversas na neurociência. Alguns cientistas acreditam que o cérebro, por ser uma rede neural altamente conectada, pode compensar a perda de um centro neural, da mesma forma que o trânsito pode ser desviado em torno de um centro da cidade bloqueado.
Os resultados do experimento mostraram que o pMTG é um centro neural essencial para o processamento do significado da linguagem, mas que o cérebro humano tenta compensar sua perda de forma imediata e parcial, ativando outras áreas da rede neural da linguagem. Isso revela a importância dos centros neurais nas redes neurais e a capacidade notável do cérebro humano de se adaptar a situações adversas e de preservar funções vitais, como a comunicação.
O experimento também abriu novas possibilidades de investigação sobre como o cérebro humano processa a linguagem e como ele se recupera de lesões ou doenças que afetam essa função. Além disso, o experimento pode contribuir para o desenvolvimento de tratamentos e terapias para pessoas que sofrem de distúrbios da linguagem, como a afasia, que afeta a compreensão e a produção da fala.
O experimento foi realizado com a colaboração de pacientes voluntários, que concordaram em participar do estudo antes de passar pela cirurgia. Os pacientes foram submetidos a testes de linguagem antes e depois da desconexão do pMTG, enquanto os pesquisadores registravam a atividade cerebral por meio de eletrodos implantados no cérebro. Os testes de linguagem consistiam em ouvir e repetir frases simples ou complexas, ou responder a perguntas sobre o significado das frases.
Os pesquisadores esperam que o experimento possa inspirar outros estudos semelhantes, que explorem outras áreas e funções do cérebro humano, e que possam ampliar o conhecimento sobre esse órgão fascinante e misterioso que nos permite pensar, sentir e interagir com o mundo.