Você já pensou em trocar o seu chuveiro ou a sua torneira por modelos que consomem menos água?
Essa pode parecer uma boa ideia para economizar na conta e ajudar o meio ambiente, mas um estudo recente sugere que os benefícios dessas tecnologias podem não ser tão grandes quanto se espera.
O estudo, publicado na revista Journal of the Association of Environmental and Resource Economists, analisou o chamado paradoxo da eficiência, que é a baixa adoção de tecnologias que reduzem o consumo de recursos naturais pelos consumidores. Os autores do estudo argumentam que essas tecnologias não são tão atraentes para os consumidores porque eles não percebem uma grande diferença na sua qualidade de vida ou no seu bolso.
Para testar essa hipótese, os pesquisadores realizaram um experimento na Costa Rica, onde a superexploração dos aquíferos públicos é uma preocupação urgente. Eles distribuíram chuveiros e arejadores de torneira que economizam água para quase 900 domicílios, de um grupo de mais de 1300 domicílios. Esses equipamentos prometiam reduzir o consumo de água em cerca de 30%, mas a redução real foi de apenas 9%.
Os pesquisadores atribuem essa diferença entre a previsão e a realidade a um conjunto de suposições de engenharia e comportamentais falhas. Por exemplo, os engenheiros assumem que os consumidores não mudam o seu comportamento após a instalação das tecnologias, mas isso nem sempre é verdade. Alguns consumidores podem aumentar o tempo ou a frequência do banho, ou usar mais água em outras atividades, anulando parte da economia.
Além disso, os consumidores podem não valorizar tanto a economia de água quanto os engenheiros ou os ambientalistas. Isso pode acontecer porque a água é um recurso barato e abundante em muitos lugares, ou porque os consumidores têm outras prioridades ou preferências. Por exemplo, alguns consumidores podem preferir um banho mais quente ou mais forte, mesmo que isso signifique gastar mais água e energia.
Os autores do estudo concluem que, com relação às tecnologias que eles estudaram, não existe um paradoxo da eficiência, pois os benefícios para os consumidores da adoção dessas tecnologias são, em média, negativos. Eles sugerem que, para aumentar a adoção dessas tecnologias, é preciso levar em conta as preferências e os incentivos dos consumidores, e não apenas os aspectos técnicos ou ambientais.
O estudo foi financiado pela Agência Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento (SIDA) e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os autores são Francisco Alpizar, Maria Bernedo Del Carpio e Paul J. Ferraro, pesquisadores das áreas de economia e ciências ambientais. O texto original do estudo pode ser acessado aqui.