O movimento eugênico foi uma corrente de pensamento que defendia a melhoria da raça humana por meio da seleção artificial dos indivíduos considerados mais aptos.
Embora tenha surgido no século XIX, a eugenia ganhou força no início do século XX, influenciando políticas públicas, leis e atitudes sociais em vários países, inclusive no Brasil.
Um dos principais veículos de divulgação e legitimação da eugenia foi a literatura médica, que usou argumentos científicos para justificar práticas discriminatórias e violentas contra grupos considerados inferiores ou indesejáveis. Um exemplo notório é o New England Journal of Medicine (NEJM), uma das mais prestigiosas e antigas publicações médicas do mundo.
Em um artigo recente, publicado no próprio NEJM, os autores analisam como o jornal contribuiu para o avanço da eugenia nos Estados Unidos e no mundo, destacando os seguintes pontos:
- Eugenia no NEJM: O artigo mostra como o NEJM e outras publicações médicas apoiaram políticas eugênicas, como restrição à imigração e esterilização, influenciando atitudes públicas e políticas. Por exemplo, em 1924, o NEJM publicou um editorial elogiando a lei de imigração que restringia a entrada de pessoas de origem asiática, africana e do sul da Europa, alegando que elas eram geneticamente inferiores e ameaçavam a pureza racial americana.
- Influência Médica: O artigo ressalta o papel significativo que os médicos tiveram no movimento eugênico, usando sua influência para promover a eugenia como uma solução para problemas sociais. Os médicos defendiam que a esterilização compulsória de pessoas com deficiências físicas ou mentais, doenças hereditárias, criminalidade ou pobreza era uma medida necessária para evitar o declínio da civilização. Além disso, os médicos participavam de comitês e tribunais que decidiam quem deveria ser esterilizado ou não.
- Consequências Históricas: O artigo expõe as graves consequências que a defesa da eugenia teve na história, alimentando o desprezo por pessoas com deficiências, grupos étnicos marginalizados, imigrantes e pobres. O artigo cita que mais de 60 mil pessoas foram esterilizadas nos Estados Unidos entre 1907 e 1979, com base em critérios eugênicos. Além disso, o artigo lembra que a ideologia eugênica inspirou as ações genocidas de Hitler na Alemanha nazista, que exterminou milhões de judeus, ciganos, homossexuais e outros grupos considerados inferiores.
- Reflexão e Mudança: O artigo serve como um ponto de partida para reconhecer e confrontar as atitudes preconceituosas que ainda persistem na medicina e na sociedade, destacando a necessidade de comprometimento dos médicos e suas plataformas profissionais. O artigo propõe que o NEJM reconheça seu papel histórico na promoção da eugenia e se comprometa a combater o racismo, o capacitismo, o sexismo e outras formas de discriminação que afetam a saúde e os direitos humanos das populações vulneráveis.
O artigo é uma leitura importante para quem se interessa pela história da medicina e pela ética médica. Ele nos mostra como a ciência pode ser usada para fins nefastos, mas também como ela pode ser usada para reparar os erros do passado e construir um futuro mais justo e inclusivo.
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