No mundo de hoje, nem todos se identificam completamente como humanos, alguns se sentem como “transespécie”. Em entrevista à Sputnik, uma ciborgue “real” contou quem são os “transespécie” e por que se definem assim.
Na ficção científica, um ciborgue é um ser humano que tem tecnologias incorporadas no próprio corpo, seja para entender melhor o mundo ao redor ou melhorar a vida. Mas quem são os ciborgues “reais”?
“Eu me considero transespécie porque tenho um novo sentido, um novo órgão que não é humano, por isso não me sinto 100% humana e me considero transespécie”, explicou em entrevista à Sputnik Mundo Moon Ribas, artista, ativista ciborgue e cofundadora da Transpecies Society (Sociedade Tranespécie).
A Transpecies Society se define como “uma associação que dá voz a identidades não humanas, gera consciência sobre os desafios que enfrentam os transespécie e define a liberdade de autodesign”, além de “oferecer o desenvolvimento de novos sentidos e órgãos”.
Assim, a própria Moon Ribas tem um sensor sísmico — um par de implantes nos pés que estão conectados a sismógrafos online, permitindo detectar tremores de terra em qualquer parte do mundo. Se em algum lugar do planeta há um sismo, Moon sente uma vibração dentro do seu corpo.
O movimento “arte ciborgue”, do qual ela faz parte, procura mudar a percepção da realidade. A realidade que percebe por meio de implantes, ela a compartilha através de obras de dança e percussão.
Moon não é a única “ciborgue” na Transpecies Society e na Fundação Ciborgue. Seu colega Neil Harbisson tem uma antena que lhe permite perceber as cores como notas musicais. Manel Muñoz, por sua vez, tem sensores de pressão atmosférica nas orelhas, sendo capaz de predizer quando vai chover.
Atualmente estão sendo desenvolvidos outros sentidos. Um membro da sociedade está elaborando um implante para detectar a qualidade do ar para poder “escolher o caminho menos contaminado ao regressar para casa”. Outro artista quer receber raios cósmicos e transformá-los em vibrações e sons.
“Tínhamos necessidade de criar outro conceito que não fosse transumanista, porque acreditamos que o transumanismo está focado nos humanos, na ideia de melhorar o humano de ser superior”, detalhou Moon, explicando a identidade transespécie.
Segundo a artista, para eles ser ciborgue não tem nada a ver com melhorar ou superar alguém, mas ter outra percepção da realidade. “Perceber mais intensamente o planeta talvez não seja muito positivo para alguns, mas tudo é muito relativo”, diz.
A Transpecies Society foi criada para tornar visíveis tais identidades, acrescenta Moon, porque há muita gente que como ela não se identifica por completo como “humano”.
“Fiquei surpreendida com a quantidade de pessoas que não se sentem 100% humanas. De fato, temos um formulário para quem queira ser membro. Perguntamos, de 1 a 10 o quão humano se sentem e quase ninguém marca 10, quase sempre é menos de 10”, ressalta a cofundadora da entidade.
Segundo Moon, muita gente acha que tem um corpo que não os representa, porque se sentem como um animal, ou uma matéria, ou talvez se vá alterando. Tudo isso tem a ver com o conceito de identidade, esclarece a cofundadora da associação, e é um assunto “muito pessoal”.