O Instituto Vital Brazil (IVB), instituição de ciência e tecnologia ligada à Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, completou 100 anos de fundação e está se preparando para lançar um programa de residência em farmácia, voltado para a produção de soros hiperimunes, em associação com a Universidade Federal Fluminense (UFF).
“Vamos lançar o curso de pós-graduação em farmácia na área de soros, em 2020, e queremos mais cem anos para o Vital Brazil, sempre voltados para a transformação da pesquisa em produto de benefício para a saúde humana”, disse hoje (4) à Agência Brasil o diretor-presidente do instituto, Roberto Pozzan.
Fundado pelo cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha em 3 de junho de 1919, por meio de contrato com o governo do estado do Rio de Janeiro, o Instituto produziu, até hoje mais de 2,4 bilhões de unidades de soros, vacinas e medicamentos, distribuídos pelo país e divididos em mais de 350 milhões de unidades injetáveis (soros, vacinas, entre outros), mais de 2 bilhões de unidades de sólidos (comprimidos e drágeas) e mais de 110 milhões de unidades de líquidos (xaropes e suspensões).
Vanguarda
O Instituto Vital Brazil mostra que continua na vanguarda. Segundo Pozzan foi produzido, nos últimos dez anos, um soro específico para picada de abelha africana, em associação com o Centro de Estudos de Venenos e Animais Peçonhentos (Cevap) da Universidade Estadual Paulista (Unesp), em Botucatu (SP). “O instituto é pioneiro na fabricação do soro anti picada de abelha africana”, ressaltou.
Segundo Pozzan, a pesquisa é interessante, porque a picada de abelha dói muito. Em auxílio ao instituto, o Cevap conseguiu isolar o veneno da abelha da fração tóxica que causava dor.
“O Cevap foi capaz de identificar e isolar essa parte que produzia a dor e a partir daí conseguiu extrair o veneno da abelha, inocular no cavalo, sem provocar dor, e conseguir produzir o soro antiapílico, isto é, contra picada de abelha”.
Roberto Pozzan destacou que o soro é o primeiro produto farmacêutico brasileiro que segue todas as especificações atuais da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O soro foi testado em 20 pessoas, até agora. “Foi totalmente seguro.”
Outro projeto que saiu da bancada de pesquisa para utilização humana é o selante de fibrina, produzido a partir de veneno de cascavel, para cicatrização de feridas, também inédito no mundo. Os dois soros já foram testados em humanos e entram agora na fase 3, que prevê sua aplicação em populações maiores.
Os pedidos de financiamento ao Ministério da Saúde já foram feitos pela direção do IVB, que está fechando agora o orçamento dos dois projetos para levar ao ministério. Pozzan estima que isso será feito ainda neste mês.
Agências de fomento
Neste ano, o instituto está conversando com agências de fomento internacionais para ver a possibilidade de obter financiamento ou patrocínio para a realização de pesquisas relacionadas a acidentes ofídicos em outros países, especialmente na África. Pozzan informou que enquanto a dengue mata 20 mil pessoas no mundo, por ano, “cerca de 90 mil pessoas morrem por ano no mundo por acidente de picada de cobra, das quais um terço na África”. O número não engloba amputações ou outras consequências relacionadas à mordida de cobra.
A ideia do diretor presidente do IVB é fazer estudos naquele continente, não só na epidemiologia do acidente da mordida de cobra, mas também na possibilidade de instalação de uma fábrica na África, para produção local de soro antiofídico. “Porque é um continente muito abandonado e desde o ano passado, a Organização Mundial da Saúde (OMS) considera que a picada de cobra seja uma doença negligenciada, porque não vem sendo cuidada, especialmente em países da África, da forma como deveria ser cuidada”, explicou.
Principais ganhos
Roberto Pozzan disse ainda que os principais ganhos do instituto Vital Brazil foram obtidos na pesquisa e na atenção à saúde. “Uma pesquisa que não era só básica, era uma pesquisa aplicada”. O IVB apresenta como grande legado de seu fundador, o cientista Vital Brazil, a produção de soros contra picadas de cobra, aranha e escorpião.
A partir de estudos de Vital Brazil teve prosseguimento a produção de soros e vacinas e vários elementos ligados à saúde pública. No Rio, depois de participar da primeira diretoria do Instituto Butantan, em São Paulo, Vital Brazil foi convidado pelo governo fluminense à época para construir um laboratório, destinado à produção da vacina antirrábica, devido à necessidade de ter produção da vacina próximo ao local da vacinação, em Niterói.
O diretor presidente do IVB salientou que pesquisa aplicada “sempre foi vertente importante do instituto. Transformar pesquisa de bancada em produto utilizado por seres humanos”. Pozzan ressaltou que Vital Brazil foi o primeiro cientista a descobrir e colocar na pesquisa uma especificidade do soro antiofídico. Isso significa a necessidade de ter soro antiofídico para cada tipo de cobra. “Se você sofre uma picada de cascavel, precisa ter um soro próprio. Para picada de jararaca, idem. Isso foi descoberto pelo próprio Vital Brazil. Até então, não se tinha essa dimensão que era preciso esse tipo de especificidades.”
Comemoração
Para comemorar o aniversário, o Instituto Vital Brazil vai promover um evento especial, no dia 17, no Teatro Municipal de Niterói, onde será apresentado recital de Eduardo Monteiro, pianista e diretor da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (USP). A família do cientista Vital Brazil estará presente. Também está sendo planejado um ciclo de palestras ao longo do ano, com calendário a ser divulgado.
O Instituto Vital Brazil é um dos 21 laboratórios oficiais brasileiros, um dos quatro fornecedores de soros contra o veneno de animais peçonhentos e produtor de medicamentos estratégicos para o Ministério da Saúde.
Edição: Maria Claudia