A reportagem sobre “a vida de rei” de François de Rugy foi divulgada pelo site de informação Médiapart na quarta-feira (10). Num intervalo de pouco mais de um ano, De Rugy e sua mulher, Séverine, organizaram dezenas de jantares faustosos. Os festins, para grupos de oito, dez e até 20 convidados ou mais, eram regados a vinhos de grande valor – garrafas de € 100 e € 550 –, e pratos à base de crustáceos e lagostas robustas, símbolos do “ultraluxo” na sociedade francesa.
As mesas eram decoradas com arranjos florais sofisticados, candelabros e luz de velas, acompanhando um serviço digno de grandes banquetes: pratos de porcelana de época pintados à mão, talheres de ouro ou prata e copos de cristal. Os convidados eram empresários, intelectuais, artistas e acadêmicos. Os jantares, tratados como encontros “informais” de trabalho, aconteceram na residência oficial do presidente da Assembleia, a mansão de Lassay, nos arredores do Parlamento, em Paris.
Questionado sobre a utilidade desses jantares desmesurados, o ministro alegou que as recepções faziam parte de sua “atividade de representação” como presidente da Assembleia Nacional. De Rugy reconheceu que sua esposa cuidava da organização nos mínimos detalhes e que faziam isso para “não se desconectar da sociedade”.
A reportagem do Médiapart ainda revelou que o casal De Rugy gastou cerca de € 63.000 em reformas no apartamento de função que ocupam atualmente na sede do Ministério da Transição Ecológica, no 7° distrito de Paris. Apenas em pintura, a reforma custou € 35.390, mais € 4.639 em piso e carpete e € 6.057 nos banheiros, segundo o Médiapart. O detalhe que mais chamou a atenção dos jornalistas foi a construção de um closet, que não existia no edifício tombado pelo patrimônico histórico, pela módica soma de € 16.996. Procurado por jornalistas, o responsável pela empresa de pintura avaliou que as obras “não eram necessárias” e foram realizadas para “dar mais conforto” ao casal.
Pedidos de demissão
As imagens das recepções suntuosas do casal de Rugy incendiaram as redes sociais. O político se defendeu em uma longa nota publicada em seu perfil no Facebook, alegando não ter cometido nenhuma irregularidade e acusou o Médiapart de ser um site “panfletário”.
Vários parlamentares, governistas e da oposição, pedem a renúncia do ministro. No entanto, o primeiro-ministro, Édoaurd Philippe, convocou De Rugy para explicações em seu gabinete nesta quinta-feira e ficou decidido, depois dessa reunião, que o governo fará uma “inspeção” detalhada dos gastos. O ministro se comprometeu a “reembolsar os cofres públicos de cada euro que vier a ser contestado”.
Depois de sete meses de crise social dos “coletes amarelos”, esse novo escândalo sobre a vida de luxo dos políticos nos palácios da República constrange o presidente Emmanuel Macron. Por enquanto, o chefe de Estado reiterou sua confiança no ministro.
Para a imprensa francesa, a situação é paradoxal. Vários veículos observam que De Rugy sempre defendeu publicamente mais sobriedade no comportamento dos políticos.