Jorge Oliveira Andrade é pescador há mais de 30 anos, junto com Barnabé Almeida, que também se dedica à pesca, passa horas no manguezal a catar caranguejos na região da APA, no recôncavo da Baía de Guanabara, que abrange os municípios de Magé, Guapimirim, Itaboraí e São Gonçalo. Mas quando chega o período de defeso, entre 1º de outubro e 31 de dezembro, quando a pesca do caranguejo fica suspensa, pescadores cadastrados, como os dois, recebem uma ajuda de custo do projeto desenvolvido pela ONG Guardiões do Mar para fazer a limpeza dos manguezais, e, assim, manter a recuperação das áreas.
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O presidente da ONG, Pedro Belga contou que no ano passado foram recolhidas 22 toneladas de lixo. Entre eles pneus, colchões, sofás e televisores. “Foram recolhidos, entre outras coisas, 48 tubos de imagem e 23 TVs completas em dezembro de 2018”, afirmou.
Para Jorge, além de manter o sustento, o serviço é bom por conservar o lugar onde trabalha. “É um dinheirinho que ajuda muito a gente na época que fica parado e está limpando também a área que a gente trabalha e tira o lixo. Esse aqui [apontando Barnabé] trabalha comigo desde criança. Hoje, já tem dois filhos homens, mas começou comigo trabalhando”, disse.
Mulheres
A categoria, em sua maioria de homens, tem na região da APA uma forte presença de mulheres. Márcia Regina Correa Santos, mora em Suruí, 4º distrito de Magé, e conta que criou os três filhos catando caranguejo. Hoje, presidente da Associação de Caranguejeiros Amigos dos Mangues de Magé (Acam), sente orgulho da vida que escolheu ao se casar com Elias Almeida e entrar para a família dele, que é caiçara e tem tradição local na pesca. “A família toda dele é da pesca do caranguejo. É uma família tradicional da pesca aqui no Suruí. É caiçara mesmo. Família que faz cestos, rede, tarrafa, puçá. E eu continuei o ofício mesmo com o nascimento dos meus filhos”, revelou.
Caranguejos
Jorge e Barnabé também ficam felizes em ver a recuperação do manguezal. Já contribuíram muito para o replantio da região. “Tem carreira de mangue aí que foi a gente que plantou”, lembra.
A relação com a pesca é tanta que os dois constroem os barcos que usam. Jorge contou que a embarcação de madeira resiste até sete anos, quando então fazem a troca do fundo para as embarcações terem vida útil é de até 40 anos. A preocupação deles, é com o sumiço da profissão. As novas gerações buscaram níveis de escolaridade mais elevados e, os filhos, que antes seguiam o ofício dos pais, agora, se formam no nível superior para seguir outras carreiras. “Eles querem fazer informática, profissões ligadas a petróleo e gás”, acrescentou Barnabé.
“A riqueza de Itaboraí era a produção de laranja. Os filhos foram se formando e saindo e hoje acabou laranja em Itaboraí. Se arrumar um meio melhor de sobreviver não vai querer fazer. Isso aqui [a pesca] é uma aventura. Uma época ganha bem, outra não ganha nada. No verão vende bem, porque tem bastante caranguejo, mas nessa época o freguês some porque o caranguejo fica feio porque está mudando”, disse Jorge lembrando que a filha Niede que também foi pescadora, se formou em professora.
De acordo com Pedro Belga, apesar da recuperação atualmente restam apenas 23% das áreas de manguezal que foram encontradas pelos colonizadores quando chegaram ao Rio de Janeiro.
Currais
Uma outra região usada pelos pescadores para o seu sustento na Baía de Guanabara fica fora da área dos manguezais, em uma região mais aberta para a navegação onde existem 508 currais de pesca, que são armadilhas em que o peixe entra e não tem como sair. Este método era utilizado pelos indígenas, antes da chegada dos colonizadores e ainda é preservado. Este tipo de pesca foi proibido em 2008, assim não é possível construir novos currais. Na área, os pescadores instalaram marcações para identificação de corredores de navegação, cada uma tem a figura de um burrinho colorido.
“Eles fizeram essas marcações para facilitar a visão e evitar que as embarcações fiquem encalhadas. Eu mesmo já fiquei preso aqui durante umas quatro horas”, comentou durante o trajeto que conduzia a equipe da Agência Brasil na Baía de Guanabara.
Nas pontas dos bambus enterrados no fundo da baía, que formam os currais é possível ver alguns Trinta Réis de Bando, aves que migram no Canadá para o Brasil em busca de temperaturas mais quentes, mas parecem se ambientar bem e acabam ficando por mais tempo como os vistos no passeio feito pela reportagem. “Eles vêm passar o verão na Baía de Guanabara e alguns ficam até o inverno”, contou o pescador Aldeildo Malafaia, presidente da Cooperativa Manguezal Fluminense feliz em apontar mais uma ave que pode ser vista na região que ajuda a preservar.
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Edição: Liliane Farias