Os chanceleres do Mercosul (Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai) e os comissários europeus de Agricultura e Comércio tomaram as rédeas das discussões na noite de quarta-feira (26), depois de as equipes negociadoras reduzirem ao mínimo os assuntos pendentes. Entre os pontos ainda em aberto estão a oferta europeia para a carne bovina e a proteção de determinados produtos europeus nos países sul-americanos.
“Duvido que a oferta europeia para a carne bovina em seu conjunto seja suficiente para abrir o mercado automobilístico sul-americano, que é o coração deste acordo”, resumiu o diplomata europeu.
Nas últimas semanas, cresceu a pressão do setor agrícola e de ONGs ambientalistas europeias contra o acordo. As negociações são criticadas por 340 ONGs europeias e sul-americanas devido à deterioração dos direitos humanos e da situação ambiental no Brasil desde a eleição do presidente Jair Bolsonaro. A liberação de dezenas de agrotóxicos considerados perigosos para a saúde também é denunciada na Europa.
Os governos de França, Irlanda, Bélgica e Polônia enviaram neste mês uma carta ao presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, para manifestar sua “profunda preocupação” sobre o impacto que um acordo teria sobre esse setor. Sete países europeus, entre eles Espanha, Alemanha e Portugal, contra-atacaram com outra carta a Juncker para expressar os benefícios de um tratado, convidando ambas as partes a “fazer algumas concessões finais”.
“O contexto político está bastante carregado na Europa”, admite o diplomata europeu, para quem, em muitos países, ressurge o debate contra os acordos comerciais, registrado anos atrás com a negociação de um pacto com os Estados Unidos. “Se o acordo for concluído, poderá ser por considerações geopolíticas e para enviar um sinal sobre os méritos do livre-comércio”, acrescentou. A UE luta contra as consequências negativas das políticas protecionistas e da guerra comercial declarada por Donald Trump.
Rumo ao Japão
O anúncio de um “acordo político” nos próximos dias “é possível”, disse o diplomata. Ele alertou, no entanto, que tudo pode também capotar. Se os avanços necessários não forem alcançados em Bruxelas na reunião ministerial, a negociação pode passar diretamente para o mais alto nível, à margem da cúpula do G20, previstos sexta e sábado em Osaka.
O presidente da Comissão Europeia tem uma reunião programada no sábado na cidade japonesa com o presidente da Argentina, Mauricio Macri, que exerce a presidência rotativa do G20. Além de Macri e de Bolsonaro, do lado do Mercosul, entre os europeus estarão presentes Emmanuel Macron (França), Angela Merkel (Alemanha), Pedro Sánchez (Espanha) e Mark Rutte (Holanda).
Um eventual acordo de livre-comércio que permitiria eliminar tarifas em setores como o automobilístico, ou o agrícola, entre ambos os blocos seria um dos maiores já assinados pela União Europeia, criando um mercado de 770 milhões de consumidores.
O comércio entre os países europeus e os do Mercosul alcançou quase € 88 bilhões no ano passado, com a balança comercial ligeiramente favorável aos europeus, em cerca de € 2,5 bilhões.