“Rio-Paris não atende – AF447, o acidente que não deveria ter acontecido” (Le Rio-Paris ne répond plus – AF447, le crash qui n’aurait pas dû arriver”, em tradução livre) retraça o que aconteceu naquela madrugada e as investigações que se seguiram. A obra também relembra as repetidas panes que aconteceram, desde o ano anterior, em aviões Airbus e outros que usavam as sondas de velocidade pitot. O congelamento da engrenagem levou informações equivocadas para a cabine de pilotagem e foi o ponto inicial da tragédia.
Falha coletiva
“O livro demonstra que foi uma falha coletiva de todos os envolvidos no transporte aéreo, e não somente da Air France. Na minha opinião, a responsabilidade da Airbus é superior a da Air France”, alega Arnoux, ex-piloto da companhia francesa, entre outras, e que agora está aposentado.
“A associação de famílias brasileiras nunca quis entrar nos procedimentos penais franceses justamente porque temia esse desfecho. Eles terão razão em não confiar que a Justiça francesa vai esclarecer esse acidente, devido ao lobby da Airbus e o seu poder industrial”, dispara o consultor em segurança aérea.
Três avaliações de especialistas, que serviram de base à Justiça, destacaram que os erros de pilotagem foram fundamentais para o acidente. Apenas o primeiro relatório, estabelecido pelos investigadores do BEA (a agência que apura acidentes aéreos na França), indicou o papel dos problemas técnicos na tragédia. A última perícia, divulgada em 2017, concluía que as falhas dos pilotos foram “a causa direta” da queda do A330-200 e eximiu a fabricante de responsabilidades.
Nada foi feito antes, diz autor
Para Arnoux, se os juízes confirmarem a avaliação da promotoria, de que faltam provas para incriminar a construtora, a independência da Justiça será posta em questão. “O erro não resulta do defeito em si, mas de a Airbus não ter feito nada, embora houvesse sinais muito significativos [de falhas nas sondas pitot]”, avalia o autor, lembrando que, depois da catástrofe, os modelos de sondas Thales em questão foram retirados de todos os aviões do mundo.
“O que será um processo que vai falar da Airbus, sem que a Airbus esteja lá para responder? Não faz sentido. O que espero agora é que os juízes leiam o meu livro antes de tomar a sua decisão”, afirma o ex-piloto. A decisão é esperada para setembro.
Outra mudança que o acidente provocou foi nos simuladores de voo nos Estados Unidos e na União Europeia, que agora são capazes de imitar condições idênticas à pane generalizada do A330 – um cenário que, antes, era tratado como “impossível”. A deficiência colaborou para que a formação dos pilotos fosse incompleta. Agora, eles aprendem a retomar o controle do avião nessas condições.
O livro Le Rio-Paris ne répond plus – AF447, le crash qui n’aurait pas dû arriver tem 245 páginas e foi publicado pela editora parisiense L’Harmattan.