“Quando os arqueólogos nos pediram para procurar vestígios de DNA de caçadores-coletores no chiclete de Huseby Klev, nos posicionamos com cautela à ideia. Muito esforço foi empenhado, mas foi justificado quando percebemos que encontramos traços genéticos de pessoas que o cuspiram há mais de 10 mil anos nessa massa viscosa e congelada”, afirmou Natalija Kashuba, da Universidade de Uppsala (Suécia).
Cientistas acreditam que as primeiras pessoas modernas teriam entrado na Europa há uns 45 mil ou 40 mil anos, viajando por vários caminhos, através dos Balcãs e das ilhas do Mediterrâneo e se deslocando pela costa da África rumo à Espanha. Ferramentas e outros vestígios dessas primeiras pessoas ajudaram os cientistas a descobrir a aparência delas e a encontrar dicas de por que “derrotaram” os neandertais.
Os primeiros habitantes da Europa, cujos vestígios quase desapareceram completamente do DNA dos europeus modernos, não habitaram todo o subcontinente. Quase todas as suas regiões do norte, incluindo a Grã-Bretanha, o norte da Rússia e a Escandinávia, eram cobertas por gelo, sendo inadequadas para a vida humana.
Mas há uns 17-15 mil anos, o gelo começou a recuar, tornando o norte uma região propícia à habitação. Os cientistas têm discutido durante muito tempo como estas regiões da Europa eram habitadas pelos primeiros vikings e outros povos.
Há pesquisadores que acreditam que a Escandinávia tenha sido habitada por um grupo de pessoas que se deslocavam do sul para o norte, sendo essa teoria frequentemente criticada atualmente, pois muitas ferramentas encontradas na Suécia e na Noruega não se parecem com bifaces, lanças e outras ferramentas dos caçadores-coletores do “sul”.
Recentemente, paleogeneticistas da Universidade de Uppsala decifraram amostras de DNA relativamente antigas dos antigos habitantes da Gotlândia, ilha sueca no mar Báltico, indicando que se eles se mudaram não uma, mas duas vezes. O sul da península era habitado por pessoas da Alemanha e da Dinamarca, já o norte era casa de tribos antigas dos Bálticos e do noroeste da Rússia.
Kashuba e seus colegas encontraram novas evidências de que a Escandinávia foi colonizada de forma semelhante, estudando um artefato extremamente incomum — fragmentos de casca de bétula, que os antigos habitantes da península usavam como uma espécie de goma de mascar.
A casca da árvore era mascada não para limpeza dos dentes e como passatempo, mas, sim, para usá-la como cola na hora de pregar pedras e ossos nas armas, que incluíam lanças, flechas e muito mais. As amostras fossilizadas do chiclete foram descobertas em Huseby Klev, no oeste da Suécia, já no início dos anos noventa do século passado, mas arqueólogos não tinham como verificar se havia fragmentos de DNA.
Com a seleção das oito amostras mais bem preservadas, os geneticistas as processaram com a ajuda de várias enzimas e ficaram surpresos ao descobrir que dentro delas ainda há um número bastante grande de fragmentos do genoma dos antigos escandinavos, conseguindo restaurar quase metade de seu volume total.
Isso permitiu aos cientistas verificar de que grupo eram esses caçadores-coletores e rastrear migrações e laços de parentesco deles.
Vale destacar que eles estavam entre os migrantes do “sul”, apesar do fato de que, ao lado da goma, os cientistas encontraram ferramentas com uma técnica típica de fabricação “oriental”.
Por outro lado, o genoma continha pequenas inclusões e DNA dos povos que viviam nas proximidades da Samara moderna e do lago Onega. Segundo arqueólogos, a descoberta reforça a teoria das duas ondas de migração, por isso também indica que os representantes destes grupos de antigos escandinavos estiveram em contato não só a nível genético, mas também a nível cultural.
“Os vestígios de DNA nesta goma não só são extremamente importantes para revelar as raízes e a história das migrações dos povos, como também nos permitem aprender muito sobre suas relações sociais, doenças e dieta. Grande parte da nossa história está diretamente refletida no DNA”, conclui Persson, um arqueólogo da Universidade de Oslo, Noruega.