Os arquivos militares dos EUA e da Alemanha de 1963 recentemente divulgados atestam que a Alemanha Ocidental planejava secretamente possuir e até mesmo usar armas químicas, o que era proibido naquela época.
De acordo com o jornal Deutsche Welle (DW), a Alemanha Ocidental tinha planos em 1961 de pedir aos Estados Unidos que compartilhassem agentes químicos com o inspetor geral do exército alemão, Friedrich Foertsch, dizendo que eles “não poderiam fazer isso” sem tal dissuasor.
A publicação do DW baseia-se nos documentos recentemente divulgados indicando que em 1963 o ministro da Defesa, Kai-Uwe von Hasse, solicitou que os EUA fornecessem armas químicas à Alemanha Ocidental, e o Pentágono inicialmente pensou em cooperar.
“A parte mais surpreendente é que os militares dos EUA não perceberam que era uma questão delicada. Eles argumentaram que era simplesmente mais um sistema de armas”, disse Reid Kirby, historiador militar norte-americano.
No entanto, o Departamento do Estado dos EUA percebeu que era “um negócio muito sério” que criaria um “imenso problema politico”.
“Isto era como uma ‘batata quente’ e somente o presidente poderia decidir isso”, citou ao DW o especialista em armas químicas, Matthew Meselson, que parecia ser um conselheiro do governo norte-americano na época.
Depois de refletir sobre a proposta, Washington finalmente a recusou três anos depois, deixando em aberto a possibilidade de fornecer munições químicas a seus aliados se uma guerra começasse.
“Os EUA estariam estabelecendo um precedente com a transferência de armas químicas para a Alemanha Ocidental, e nisto poderíamos ser a fonte inicial de proliferação de armas que foram agrupadas com armas nucleares na categoria de ‘destruição em massa’. Esse país também estaria fornecendo meios para uso de armas químicas para um país que […] declarou que não fabricaria nenhuma arma atômica, biológica ou química”, diz um memorando da Agência de Controle de Armas e Desarmamento dos EUA.
Os arquivos revelaram que Bundeswehr (Forças Armadas unificadas da Alemanha) sugeriu a compra de 14 mil toneladas de munições químicas dos Estados Unidos, no caso de uma guerra, para serem usadas contra a União Soviética e seus aliados.
“Foi certamente um estudo sério feito pela Alemanha Ocidental para integrar armas químicas às suas forças armadas”, comentou Kirby.
Por sua vez, o governo da Alemanha e o Bundeswehr negaram qualquer envolvimento na compra ou uso de armas químicas.
“Não há nenhuma arma química em solo alemão, nem nas mãos alemãs e nem nas mãos dos aliados da OTAN”, disse o porta-voz do ministro da Defesa.