A misteriosa pirâmide que se ergue sobre a superfície do planeta anão Ceres, localizado no cinturão de asteroides entre Marte e Júpiter, revelou ser não somente um vulcão de gelo extinto, como seu primo de “lama” com uma história incomum, afirma uma equipe de cientistas em seu artigo publicado na revista Nature Geoscience.
“Em um determinado momento, nas profundezas de Ceres, sob a montanha de Ahuna, se formou uma espécie de ‘bolha’, consistindo de salmoura, argila e diversas rochas. As rochas nesta região do planeta não eram sólidas, mas móveis e líquidas. Sendo assim, isso subiu à superfície, congelou e formou um vulcão de lama gigante”, afirmou Wladimir Neumann, da Universidade de Munster, na Alemanha.
As primeiras imagens de Ceres foram captadas pela sonda Dawn da NASA, que foi enviada ao planeta anão de 940 quilômetros de diâmetro em 2015.
Esse planeta anão, predominantemente composto por silicatos e gelo de água, revelou uma visão incomum de misteriosos pontos brancos refletivos na cratera de Okkator, vestígios de uma espessa “salmoura” e a estrutura incomum em forma de pirâmide de Ahuna Mons, com aproximadamente quatro quilômetros de altura.
Posteriormente, os cientistas descobriram que Ahuna Mons era um antigo e já “extinto” criovulcão e as manchas brancas eram a fonte da atmosfera temporária de Ceres, que consistia de vapor de água.
Além disso, em outros pontos do planeta foram encontrados depósitos de gelo “puro”, indicando que a superfície de Ceres está em constante regeneração, já que o gelo deveria ter evaporado no espaço há muito tempo.
Com essas descobertas, alguns cientistas sugeriram que as profundezas de Ceres poderiam esconder um oceano subglacial, congelado ou ainda existente, cheio de uma espécie de “salmoura” ou água aquecida por uma fonte ainda desconhecida.
Dessa forma, os cientistas passaram a debater sobre a razão para o vulcão de Ceres ainda não se ter “autodispersado” pela superfície.
Dados da sonda revelaram uma anomalia gravitacional bastante grande sob Ahuna Mons, determinando que a estrutura subsuperficial inclui uma elevação regional do manto, interpretada como uma pluma, o que explicaria os mistérios do planeta.
A julgar pela forma da anomalia, ela surgiu como resultado de que parte do manto, composto de gelo e rochas, “se separou”, derreteu e começou a subir até à superfície de Ceres.
Esse fenômeno é semelhante ao que acontece frequentemente nas profundezas da Terra, quando nelas se formam plumas, com fluxos verticais de lava quente subindo rapidamente à superfície.
Sendo assim, seu papel foi desempenhado por uma mistura de água, argila e rochas, derretidas pelo calor do núcleo de Ceres.
Grande parte da “bolha de lama” congelou antes de chegar à superfície, sendo que a parte mais leve e quente chegou até ela, formando a Ahuna Mons.
Os cientistas acreditam que um vulcão de argila possa surgir em Ceres no futuro, considerando que recentemente já houve um no planeta anão.