Qualquer um, incluindo crianças, que chegue perto da fronteira entre Israel e Gaza representa uma “ameaça” e pode ser considerado um alvo legítimo pelas Forças de Defesa de Israel (IDF), disse um general aposentado, acrescentando que tal política garante a segurança israelense.
“No nível tático, qualquer pessoa que se aproximar da cerca, qualquer um que possa ser uma ameaça futura para a fronteira do Estado de Israel e seus moradores, deve arcar com o preço por essa violação”, disse o brigadeiro-general israelense Zvika Fogel à rádio local Kan, conforme citado pelo site da Intifada Eletrônica.
Ele então argumentou que uma “criança ou qualquer outra pessoa” pode “esconder um dispositivo explosivo ou checar se há zonas mortas […] ou cortar a cerca” para permitir infiltração no território israelense, se essa pessoa se aproximar da fronteira. Em todos esses casos, a punição pelo que ele chamou de “violação de nossa fronteira”, que não pode ser “tolerada”, seria a “morte”.
O general, chefe do Estado-Maior do Comando Sul das IDF, que controla a fronteira de 65 quilômetros com Gaza, justificou a ação dos militares contra os palestinos na cerca, observando que as forças israelenses não necessariamente atiram em todos os lugares e instâncias.
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Fogel argumentou que os franco-atiradores das IDF não estão apenas atirando aleatoriamente em palestinos a seu próprio critério, já que cada alvo é supostamente cuidadosamente selecionado e avaliado.
“Eu sei como um atirador faz o tiro. Eu sei quantas autorizações ele precisa antes de receber uma autorização para abrir fogo. Não é o capricho de um ou outro atirador que identifica o pequeno corpo de uma criança agora e decide que vai atirar. Alguém marca o alvo para ele muito bem e diz a ele exatamente por que alguém tem que atirar e qual é a ameaça daquele indivíduo”, explicou. Fogel acrescentou, no entanto, que ferimentos fatais podem ser infligidos se alguém “atirar em um corpo pequeno”.
O general israelense descartou qualquer crítica dizendo que, mesmo que a imagem não seja bonita, é “o preço que temos que pagar para preservar a segurança e a qualidade de vida dos residentes do Estado de Israel”.
Morte polêmica
A polêmica entrevista aconteceu poucos dias após o assassinato de Mohammed Ayoub, de 15 anos, que foi atingido na última sexta-feira por uma bala durante o protesto Marcha de Retorno em Gaza. Um cinegrafista local que capturou o momento da morte, Abdul Hakim Abu Riyash, disse à RT que o adolescente não estava nem perto da linha de frente e não estava portando nenhum tipo de arma.
O chamado protesto Marcha de Retorno está sendo conduzido enquanto os palestinos reivindicam suas antigas casas, apropriadas por Israel em 1948. Os protestos começaram em 30 de março e devem continuar até 15 de maio, o que para os palestinos marca o forçado êxodo em massa de suas terras durante o estabelecimento do Estado de Israel. Os israelenses comemoram isso como o Dia da Independência.
A sangrenta repressão aos manifestantes lançada pelas IDF já afetou os palestinos. Desde o início dos protestos, quase 40 pessoas foram mortas e mais de 1.400 feridos por munição real, balas de borracha e gás lacrimogêneo usado pelas forças israelenses contra os manifestantes perto da fronteira de Gaza, segundo o Ministério da Saúde de Gaza.
As ações de Tel Aviv provocaram reações iradas de grupos de direitos internacionais, que repetidamente condenaram o uso da força pelos israelenses contra manifestantes desarmados.
A Human Rights Watch (HRW) criticou os assassinatos “calculados” e disse que Tel Aviv não apresentou nenhuma evidência “que o arremesso de pedras e outras formas de violência por parte de alguns manifestantes ameaçaram seriamente os soldados israelenses do outro lado da fronteira”.
A Anistia Internacional também acusou Israel do uso de “força excessiva e mortal contra manifestantes, incluindo crianças”. No início de abril, o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos também instou Israel a garantir que forças de segurança não usassem força excessiva contra os manifestantes palestinos.