Um estudo publicado na revista britânica The Lancet constata o agravamento de problemas de saúde ligados ao aumento das ondas de calor, como doenças cardiovasculares ou renais, sobretudo em idosos e pessoas vulneráveis. O fenômeno vem crescendo em todo o mundo devido à mudança climática.
A Europa sofre mais do que a África e o sudeste da Ásia porque no Velho Continente há mais pessoas idosas que vivem nas cidades, onde os efeitos do calor podem ser especialmente devastadores, explica o relatório assinado por especialistas internacionais e publicado na The Lancet.
Segundo uma das autoras do etudo, a professora Hilary Graham, da universidade britânica de York, “a saúde mundial nos próximos séculos dependerá da natureza e da escala das respostas que daremos à mudança climática”.
O relatório anual, intitulado “Contagem regressiva na saúde e mudança climática”, avalia 41 indicadores-chave relativos a essas duas questões, e é publicado quatro dias antes do início, na Polônia, da 24ª Conferência Mundial sobre a Mudança Climática, a COP24, realizada pela ONU.
Os cientistas constatam que o consumo de combustíveis por habitante aumentou 2% entre 2013 e 2015, e 2,8 bilhões de pessoas não têm acesso a tecnologias sustentáveis. Essa dependência ao carbono e aos combustíveis fósseis faz com que os habitantes de 90% das cidades respirem um ar poluído, com elevada concentração de gases tóxicos, vetores de doenças.
Agricultura ameaçada
“Em 2017, mais de 157 milhões de pessoas vulneráveis acima dos 65 anos estiveram expostas, em todo o mundo, a ondas de calor, o que representa 18 milhões a mais do que em 2016. Como consequência da elevação das temperaturas provocada pela mudança climática, as populações vulneráveis estão expostas a golpes de calor, o que amplia o risco de desenvolver doenças cardiovasculares e renais”, destacam os autores do estudo. Os mais prejudicados são os idosos com mais de 65 anos, os habitantes das cidades e os pacientes que sofrem de problemas cardiovasculares, diabetes e doenças respiratórias crônicas.”
O estudo chama a atenção para o fato de que o fenômeno não apenas ameaça a saúde mundial, mas também as economias dos países.
“Em 2017, se perderam 153 bilhões de horas de trabalho devido à exposição ao calor, 62 bilhões a mais que no ano 2000”, especialmente “na Índia, no sudeste da Ásia, na África Subsaariana e América do Sul”, destaca o relatório. Cerca de 80% das horas de trabalho perdidas foram registradas no setor da agricultura (122 bilhões), 17,5% na indústria (27 bilhões) e 2,5% nos serviços (4 bilhões). O relatório destaca ainda a falta de verbas dedicadas a adaptar os sistemas de saúde ao aumento das temperaturas.