O cadete Spenser Rapone posou com uma camisa de Che Guevara e com a frase “o comunismo vencerá” em sua formatura na tradicional Academia de West Point. A ação custou sua dispensa do Exército dos Estados Unidos.
As imagens foram feitas em maio de 2016, mas foram publicadas apenas em 2017 e lhe renderam até mesmo ameaças de morte e o apelido de “cadete comunista”.
O alto escalão do Fort Drum aceitou a renúncia de Rapone na segunda-feira (18), após uma repreensão anterior por “conduta imprópria de um oficial”. Rapone disse que uma investigação descobriu que ele fez publicações na internet para defender uma revolução socialista e menosprezar oficiais de alto escalão. Oficialmente, o Exército disse em comunicado apenas que conduziu uma investigação completa e “medidas apropriadas foram tomadas”.
Após ser dispensado, Rapone publicou no Twitter uma foto sua mostrando o dedo do meio para a placa de entrada da Academia de West Point com a seguinte mensagem:”Uma saudação final”.
“Eu me considero um socialista revolucionário”, disse Rapone, de 26 anos, à Associated Press. “Eu encorajaria todos os soldados que têm a consciência de baixar suas armas e se juntarem a mim e a tantos outros que estão dispostos a deixar de servir aos agentes do imperialismo e se unirem a nós em um movimento revolucionário.”
Rapone disse que sua jornada no comunismo cresceu a partir de suas experiências como soldado no Afeganistão antes de ser aceito na Academia de West Point. E essas visões só aumentaram após sua entrada no tradicional centro de estudo e treinamento do Exército dos EUA.
“Nós éramos valentões em um dos países mais pobres da Terra”, disse Rapone. “Temos um dos exércitos mais avançados tecnologicamente de todos os tempos e tudo o que estamos fazendo é brutalizar, invadir e aterrorizar uma população que não tem nada a ver com o que os Estados Unidos alegam ser uma ameaça.”
Ele disse que fez as fotos em 2016, mas não as publicou no momento. Rapone decidiu publicá-las em 2017 em solidariedade ao quarterback da NFL Colin Kaepernick, alvo de críticas por ajoelhar-se durante o hino nacional como protesto contra o racismo.
Muitos outros militares também twittaram em favor de Kaepernick, embora a maioria estivesse apoiando a liberdade de expressão, não o comunismo.
A Academia de West Point divulgou um comunicado depois que Rapone postou as fotos, dizendo que suas ações “não refletem os valores da Academia Militar dos EUA ou do Exército dos EUA”. E o senador norte-americano Marco Rubio, um republicano da Flórida, pediu ao secretário do Exército que retirasse Rapone dos postos de oficiais.
“Enquanto estava de uniforme, Spenser Rapone defendia o comunismo e a violência política, e expressou apoio e simpatia pelos inimigos dos Estados Unidos”, disse Rubio.
Após seu tempo no Afeganistão, Rapone decidiu ingressar em West Point porque não conseguiria pagar uma faculdade. “Eu ainda era idealista”, disse ele. “Eu percebi que talvez eu pudesse mudar as coisas de dentro”.
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A Academia de West Point é uma instituição administrada pelo Exército e uma das mais tradicionais faculdades dos EUA. Alguns de seus ex-alunos famosos incluem o atual secretário de Estado Mike Pompeo e o ex-presidente Dwight D. Eisenhower.
Além de teóricos socialistas clássicos como Karl Marx, Rapone diz que encontrou inspiração nos escritos de Stan Goff, um sargento aposentado das Forças Especiais que se tornou um ativista anti-guerra socialista.
Durante seu tempo como cadete, as postagens de Rapone alarmaram um professor de história da West Point que afirmou que elas eram “bandeiras vermelhas que não podem ser ignoradas”. O “cadete comunista” recebeu uma advertência, mas conseguir se formar.
Greg Rinckey, um advogado especializado em direito militar, disse que é raro um oficial de West Point receber uma dispensa não honrosa como a dada para Rapone. Ele acrescentou que é possível que a academia militar possa buscar o reembolso do custo da educação de Rapone, porque ele não cumprirá a obrigação de serviço militar de cinco anos exigida após a formatura.
“Eu sabia que poderia haver repercussões”, disse Rapone, que deve falar em uma conferência de socialismo em Chicago no próximo mês. “Claro que a minha carreira militar está morta. Por outro lado, muitas pessoas estenderam a mão e me mostraram apoio.”