Dados da sonda MAVEN e do telescópio espacial Hubble ajudaram os cientistas da Rússia e outros países a esclarecer por que a água da atmosfera de Marte desaparece e qual é o papel do Sol nesse processo. As conclusões dos pesquisadores foram publicadas na Geophysical Research Letters.
“O Sol funciona como uma bomba que, ficando ligada de dia, ajuda a água a superar uma altura de 60 quilômetros acima da superfície de Marte. Durante as tormentas de poeira, a concentração de umidade no ar e a velocidade dos fluxos atmosféricos é maior, por isso, nessas condições, o Sol é capaz de elevar a água ainda mais”, disse o pesquisador russo Dmitry Shaposhnikov.
Ultimamente, os cientistas têm encontrado muitos indícios que muito tempo atrás na superfície de Marte existiam rios, lagos e oceanos de água contendo quase o mesmo volume que tem o oceano Ártico. Entretanto, há pesquisadores que consideram que naquele tempo Marte também podia ser demasiado frio para os oceanos existirem lá permanentemente e que poderia haver água no estado líquido apenas durante erupções vulcânicas.
Recentes observações de Marte, usando telescópios terrestres, provaram que durante os últimos 3,7 bilhões de anos o planeta perdeu um oceano inteiro de água que era bastante para cobrir a superfície de Marte com uma espessura de 140 metros. Atualmente, os cientistas estão tentando esclarecer para onde essa água desapareceu.
Hoje em dia, essa questão está sendo estudada por dois aparelhos em Marte: a sonda estadunidense MAVEN, que alcançou a órbita de Marte há cinco anos, e o aparelho russo-europeu ExoMars-TGO, que pesquisa a atmosfera de Marte há mais de um ano.
Segundo Shaposhnikov, logo que o primeiro aparelho chegou ao planeta foram descobertos vários fenômenos estranhos, particularmente os sensores da MAVEN detectaram grandes quantidades de hidrogênio e outros vestígios de água nos estratos superiores da atmosfera do planeta, onde os pesquisadores não os esperavam encontrar.
Além disso, eles registraram mudanças bruscas na sua concentração no início do inverno e do verão, o que também foi uma grande surpresa para os cientistas, que consideravam que a água “fugia” de Marte com uma velocidade regular.
A camada de ar de Marte tem muito pouca densidade, por isso a água só lá pode existir na forma de microcristais de gelo. Apesar de seu pequeno tamanho, eles seriam pesados demais para que os fracos fluxos de ar pudessem os elevar até à altura de mais de 60 quilômetros, onde os sensores da MAVEN registraram a grande quantidade de hidrogênio.
Shaposhnikov e seus colegas esclareceram que esse fenômeno acontece durante o solstício de verão no hemisfério sul e durante as tormentas de poeira. Eles relacionaram isso com uma particularidade única de Marte que se parece com as marés causadas na Terra pela Lua.
A interação gravitacional entre a Terra e a Lua influencia não só os oceanos da Terra, mas também a atmosfera, forçando as camadas de ar a se comprimirem e se distenderem quando se aproximam e afastam da Lua.
Um processo semelhante acontece na atmosfera de Marte, onde é o Sol que comprime diretamente as camadas de ar de Marte. Quanto mais perto Marte se aproxima do Sol, mais a atmosfera dele é afetada pelo astro, que ajuda as nuvens de cristais de gelo a se elevarem a alturas maiores nas regiões polares do planeta, onde os fluxos de ar ascendentes se movem mais rápidamente.
Esse processo se intensifica bruscamente durante as tormentas de poeira, porque as partículas de pó aumentam a capacidade da luz solar aquecer a atmosfera de Marte e ajudam à condensação da água, que forma cristais de gelo que são capazes de subir a alturas consideráveis.
Usando essas ideias, os cientistas criaram um novo modelo do clima de Marte, considerando a influência do Sol e da poeira na circulação de água na atmosfera.
“O novo modelo se conjuga bem com as observações. Estamos aguardando impacientemente os dados do sistema espectrométrico russo ACS a bordo da sonda ExoMars: as capacidades dela são muito mais amplas que as da aparelhagem da MRO, em cujos dados nos baseamos”, concluiu Aleksandr Rodin, chefe do laboratório.