Duas sessões diárias de cerca de 15 minutos de olhos fechados prestando atenção no que acontece na mente e no corpo, deixando de lado o restante do mundo, são suficientes para melhorar a concentração, a criatividade e a capacidade de tomar decisões, de acordo com o diretor da Sociedade Internacional de Meditação do Rio de Janeiro, Klebér Tani.
Em busca desses benefícios para estudantes e professores, instituições de ensino superior recorrem a cursos de meditação e incentivam a prática no ambiente acadêmico.
Tani aplica no Brasil as técnicas da meditação transcendental, como associado da Fundação David Lynch, [LINK: https://www.davidlynchfoundation.org/] organização internacional fundada pelo diretor cinematográfico que carrega no currículo produções como O Homem-Elefante e Veludo Azul. Há 42 anos ele trabalha levando a técnica a atletas, a presídios e a pessoas em situação de vulnerabilidade social. Recentemente, há 15 anos, a área educacional ganhou espaço e, com ela, o ensino superior.
Instituições como o Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca (Cefet/RJ) e a UniCarioca são clientes de Tani. “Essas pequenas aptidões, nas universidades, estão sendo muito enfatizadas. Não adianta formar um engenheiro ou um economista se a pessoa é um ser humano caído, que trata mal a família, é uma pessoa não ética”, explica.
As aulas são ofertadas de forma optativa para professores e estudantes. Eles têm cinco dias de formação e depois é feito um acompanhamento. Cabe a eles colocar em prática a meditação por cerca de 15 minutos duas vezes por dia. O objetivo é que a pessoa consiga olhar para si, identificar os próprios pensamentos e conseguir perceber aqueles que são “úteis” e os que apenas geram ansiedade.
“Os programas da educação são muito voltados para fora. A ideia é continuar com isso, mas trabalhar também o desenvolvimento do conhecedor, que é o estudante”, diz Tani.
Silêncio e mente
“Quanto mais silêncio se experimenta na mente, mais capacidade de filtrar os pensamentos. Pensamentos úteis serão reconhecidos mais facilmente e pensamentos inúteis serão eliminados mais facilmente. O custo operacional melhora muito, desenvolve-se uma visão de pensamento com mais objetividade, mais sentido. E com isso, perde-se menos dinheiro, menos tempo e menos energia porque não se sai atirando para todos os lados”, ensina.
Segundo o professor, as pessoas estão cada vez mais cansadas. “Parece que ficar quieto é perda de tempo. Para ser um indivíduo mais efetivo no que eu faço, tenho que ser uma pessoa sempre tensa”, diz. Nos estudos, a meditação, segundo Tani, aumenta a capacidade de aprendizagem e melhora o desempenho acadêmico.
Empatia
A técnica serve também para que o indivíduo desenvolva uma visão mais ampla de mundo e consiga se colocar no lugar das pessoas que estão ao seu redor, de acordo com o professor.
A questão foi um dos temas centrais no XII Congresso Brasileiro da Educação Superior Particular, em Belo Horizonte, onde Tani foi um dos palestrantes.
Neste ano, o congresso teve como tema Educação Superior: Inovação e Diversidade na Construção de um Brasil Plural. Ao longo do encontro houve espaço para o debate sobre pluralidade étnica, cultural e de gênero, tanto com relação aos estudantes quanto aos professores e técnicos administrativos.
“O congresso partiu da premissa de que a inovação e o desenvolvimento institucional dependem de um corpo diverso de docentes, discentes e técnicos administrativos”, diz carta divulgada ao fim do evento pelo setor privado de educação, representado pelo Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular.
Segundo o fórum, vivemos em um país diverso. “Aqui, nativos e imigrantes, homens e mulheres, brancos e negros convivem em harmonia nos mais diversos espaços sociais, inclusive nas universidades. Na esfera econômica, a diversidade já se mostrou fundamental para a produtividade e o progresso. Não faltam exemplos de países que têm na diversidade da população sua fonte de riqueza e de impulsionamento do crescimento”, afirma.
Habilidades socioemocionais
A meditação ajuda no desenvolvimento das chamadas habilidades socioemocionais, como empatia, a capacidade de diálogo de resolver conflitos, entre outros pontos. Voltar o ensino para essas competências é algo que tem sido feito em várias partes do mundo.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC), aprovada pelo Brasil em 2017 para o ensino infantil e fundamental e, em 2018, para o ensino médio, prevê que em todo o período escolar sejam desenvolvidas, além de capacidades acadêmicas, também habilidades socioemocionais.
*A repórter viajou a convite da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes)
Edição: Kleber Sampaio