Em meados de fevereiro, o governo venezuelano lançou no mercado sua própria criptomoeda, o petro. Ontem (20), Nicolás Maduro assegurou que a partir do próximo mês ela já se tornará em uma ferramenta de intercâmbio comercial. A Sputnik consultou um analista de economia para prognosticar as perspectivas desse passo.
Inicialmente, o projeto da criptomoeda, cujo valor é vinculado ao preço do petróleo extraído na Venezuela, foi cunhado inclusive para tentar contornar as sanções impostas pelos EUA contra o país latino-americano.
A iniciativa recebeu uma reação contraditória por parte dos economistas, principalmente pelo fato dos detalhes de sua comercialização continuarem desconhecidos.
Em uma conversa com o serviço russo da Rádio Sputnik, o analista do grupo financeiro russo Kalita-Finans, Dmitry Golubovsky, também se mostrou bem cético quanto às promessas otimistas do governo de Nicolás Maduro.
“Eu tenho acompanhado esse tema e tenho tentado encontrar pelo menos uma plataforma onde ele [petro] esteja sendo contado, onde esteja se definindo seu câmbio livre. Não consegui, em todos os mercados de criptomoedas”, confessou o especialista.
De acordo com ele, isso pode estar relacionado com o pacote de sanções introduzido por Trump, em 19 de março de 2018, com o objetivo de conter o alastramento da ferramenta no mercado global.
Aliás, Golubovsky avaliou como “muito triste” a situação interna na Venezuela, que inclusive levou o país a buscar por novos caminhos de uma possível recuperação econômica.
“De fato, a situação que se vê lá hoje em dia é muito triste, na economia e, pelo visto, no colapso da administração estatal […] Por enquanto não há, mesmo na forma que eles queriam apresentar, quaisquer transações [com petro], mesmo no criptomercado. Nem falo sobre a passagem para os pagamentos internacionais clássicos, quando você troca uma moeda por uma criptomoeda e paga com a cripto”, explicou.
O especialista propôs também um cenário interessante para o país bolivariano lidar com a dívida que está sufocando sua economia nacional.
“Por isso estou cético em relação a essas declarações. A ideia era boa, mas a realização, pelo visto, não foi consistente […] Provavelmente, tudo será banal e muito mais simples. Que eu saiba, Maduro acabou de receber 5 bilhões de dólares da China, acabou de fazer uma visita lá. Acredito que as dívidas serão amortizadas através dos empréstimos chineses concedidos sob penhora do ouro e petróleo venezuelanos”, disse o especialista, sem descartar uma situação em que Pequim possa lançar o petro nos mercados do seu país.
Contudo, Golubovsky observa que o colapso econômico na Venezuela não foi apenas o resultado de sanções, mas em primeiro lugar do péssimo manejo de recursos. Na opinião dele, há exemplos eficientes de como um país pode lidar com as medidas restritivas impostas de fora sem arruinar sua economia — por exemplo, o caso do Irã.
“É um país riquíssimo […] Tem que ser um pouco mais inteligente quando você governa um país desse tipo. Se pode comportar de modo diferente estando sob sanções. O Irã, por exemplo, tem se sustentado desde a época da Revolução Islâmica [1979], está são e salvo a até consegue florescer de vez em quando. Neste caso, as próprias pessoas que governam o país [a Venezuela] não passaram pela prova de sobrevivência, devemos entender isso muito bem”, resumiu.
Por Sputnik Brasil.