“Geralmente na defensiva, às vezes ameaçador, chamando antecessores de corruptos ou traidores da Pátria, criticando as ‘fake news’ e as mentiras, segundo ele, veiculadas pela mídia” – assim a correspondente Claire Gatinois descreve o comportamento de Bolsonaro, em reunião com a imprensa estrangeira, no palácio do Planalto, na sexta-feira (19).
Le Monde explica aos leitores franceses que Bolsonaro está à frente de “um Brasil imerso há quatro anos em uma crise econômica sem precedentes, fustigado pelo desemprego em massa (13 milhões de pessoas sem trabalho) e castigado pelo retorno da miséria”. Mas ele garante: “ninguém morre de fome no Brasil, são mentiras”.
Apesar da perplexidade que paira na sala, ele insiste: “As coisas não vão bem, mas aqui não se vê gente, mesmo os mais pobres, esqueléticos como no resto do mundo”.
Ungido de Deus
“Jair Bolsonaro se vê como investido de uma missão sagrada e pensa que o Brasil, graças a ele, está a caminho da prosperidade”, diz Le Monde, retomando a frase em que ele diz que, se Deus quiser, o país será governado para sempre por líderes como ele próprio e não mais por presidentes como Fernando Henrique Cardoso, Lula ou Dilma.
“A Amazônia é do Brasil, não de vocês!”, fala o presidente brasileiro sobre a questão ambiental. A respeito dos relatórios do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), que demonstram estatísticas cada vez mais alarmantes sobre o desmatamento, Bolsonaro diz suspeitar que o presidente do INPE trabalhe para uma “ONG” e que vai convocá-lo.
Para ele, as imagens de satélite são mentirosas. Bolsonaro e primeiro escalão estão convencidos de que o interesse internacional se deve às riquezas da floresta. “Não somos ingênuos”, diz o general Augusto Heleno. A respeito da questão indígena, o presidente diz que as comunidades vivem como na pré-história. Enquanto isso, lembra Le Monde, lideranças indígenas buscam apoio na Europa.
Admiração por Putin
Segundo Le Monde, Bolsonaro está convencido de viver num mundo repleto, segundo ele mesmo, de “socialistas”, de “corruptos” e de “fake news”. Antes de terminar a reunião, ele faz questão de falar ao correspondente russo do “profundo respeito” que tem por Vladimir Putin.
Bolsonaro aproveita também, observa o jornal francês, para confirmar que pretende nomear o filho Eduardo para ser embaixador do Brasil em Washington, para servir de “vitrine do mundo”.