A situação é paradoxal: a venda de livros na França registra uma forte queda, mas ao mesmo tempo nunca se leu tanto no país! Uma pesquisa publicada nesta quarta-feira (13) pelo Centro Nacional do Livro (CNL) indica que 88% da população se declaram leitores regulares e leram, em média, 21 livros nos últimos 12 meses. A comparação com o hábito de leitura no Brasil é inquietante: somente 52% dos brasileiros são leitores e eles leem menos de 5 livros por ano.
O estudo “Os franceses e a leitura” é realizado a cada dois anos e neste ano foi publicado dois dias antes da abertura do Salão do Livro de Paris, o maior da França. O resultado indica que o número de leitores frequentes está em alta, subiu 4% em relação a 2017, e os entrevistados afirmam que se tivessem mais tempo leriam mais. Uma a cada dez pessoas leu pelo menos um livro no último ano. Isso significa que apenas 8% da população não tem o hábito de ler.
A pesquisa indica que o número de livros lidos por ano está estável e que o mercado editorial tradicional resiste bem às novas tecnologias. Dos 21 volumes lidos em média por ano na França, 17 são em versão impressa e 4 em versão digital. “A leitura de livros digitais evolui de maneira marginal e não canibaliza os formatos impressos”, explicam os autores do estudo.
Mulheres e idosos são os campeões de leitura na França. A atividade é normalmente relacionada com o lazer e o conhecimento, mas 73% dos entrevistados afirmam que o hábito contribui para “ser feliz e realizado”. E o que franceses leem tanto? Romances, manuais e Histórias em quadrinhos, principalmente mangás, são as três grandes categorias de obras mais lidas no país.
Vendas em queda
Paradoxalmente, a venda de livros na França registra queda pelo segundo ano consecutivo. Em 2018, o mercado recuou 1,7% em relação ao ano anterior, registrando o pior desempenho dos últimos dez anos. As obras infanto-juvenis e os HQ são os únicos gêneros que tiveram resultados positivos.
A explicação, segundo o estudo “Os franceses e a leitura”, é que a população compra cada dia mais livros usados e pela internet. Eles também pegam muitas obras emprestadas nas mais de 200 bibliotecas municipais espalhadas por todo o país.
Hábito de leitura no Brasil
“No Brasil os números ainda não são satisfatórios”, reconhece o presidente da Câmara Brasileira do Livro, Vitor Tavares, em declaração à RFI. A última pesquisa Retratos da Leitura no país aponta que 44% da população brasileira não lê e 30% nunca comprou um livro. A leitura fica em 10º lugar na preferência de atividades de lazer, atrás de assistir TV, ouvir música, acessar a Internet, entre outros.
A porcentagem de 52% de leitores é considerada ainda pequena, pelo novo presidente da CBL, assim como o número de livros por habitante. A média de obras lidas por pessoa ao ano é de 4,96, e mesmo assim só 2,43 foram lidas integralmente.
Vitor Tavares vê nas “desigualdades econômicas e estruturais somadas a falta de políticas permanentes e eficientes para o incentivo à leitura” a explicação para esse baixo desempenho. Ele pede investimentos em educação e a implantação do Plano Nacional de Leitura, que precisa ainda ser regulamentado para sair do papel.
Setor editorial em crise
Sem surpresas, o mercado editorial brasileiro encolheu 21% entre 2006 e 2017, o que corresponde a uma perda de R$ 1,4 bilhões. O impacto da crise econômica na indústria do livro a partir de 2015 explica somente em parte esse recuo, acredita Vitor Tavares. Ele pensa que as mudanças de comportamento e de compra do consumidor nos últimos tempos representam “um grande desafio para o mercado de livros em todo o mundo” e que haverá “um período de grandes transformações nos próximos anos para encontrar caminhos e retomar o crescimento do mercado”.
Enquanto isso, a CBL vai continuar organizando Feiras Literárias e articulando a participação da sociedade na construção de uma política de estado para a leitura. “Estamos atentos, no âmbito da nova realidade da política nacional, ao andamento de programas como os de aquisição de livros didáticos, literatura e obras gerais para alunos e bibliotecas de escolas públicas”. “O Brasil tem ainda um longo caminho a percorrer” nesse setor, concorda Vitor Tavares.