O governo francês busca uma saída urgente para a crise social deflagrada pelo movimento dos “coletes amarelos” no país. O primeiro-ministro Edouard Philippe, escalado pelo presidente Emmanuel Macron para negociar com representantes do movimento e partidos políticos, deve anunciar nesta terça-feira (4) uma moratória de vários meses no aumento do imposto sobre os combustíveis. No entanto, os militantes dizem que a decisão não será suficiente e prometem uma nova manifestação no próximo sábado (8).
A tributação ecológica, que deveria entrar em vigor dia 1° de janeiro, previa um aumento de € 0,65 (R$ 2,84) no litro do diesel e € 0,29 (R$ 1,26) no litro da gasolina, mas será suspensa. Segundo fontes do governo, o anúncio será feito nesta terça-feira. A decisão foi tomada depois de reunião de emergência entre Macron e Philippe na noite de segunda-feira (3).
No entanto, as reivindicações dos “coletes amarelos” se intensificam e vão além da suspensão do aumento no imposto sobre os combustíveis, destinado a financiar a transição energética para uma economia de baixo carbono. Integrantes do movimento já reagem na manhã desta terça-feira, dizendo que a moratória não é suficiente e mantém a convocação de novas manifestações no próximo sábado (8).
“Os franceses não querem migalhas, eles querem a baguette inteira”, afirma Benjamin Cauchy, um dos líderes dos “coletes amarelos”. Ele exige uma revisão geral da tributação na França, a distribuição das riquezas e a realização de referendos sobre as principais questões envolvendo o país.
O restabelecimento do Imposto Sobre a Fortuna (ISF), suprimido por Macron – outra reivindicação dos manifestantes -, é descartado pelo governo. Entretanto, o executivo poderia aumentar os impostos cobrados na transmissão de heranças e nas doações de bens, segundo economistas próximos de Macron.
O presidente francês anunciou na segunda-feira um abono excepcional aos policiais, que reivindicam do ministro do Interior a revisão completa do dispositivo de segurança para enfrentar os grupos de vândalos e manifestantes radicalizados, que exigem a renúncia do presidente.
Emergência econômica
A maior entidade patronal francesa, o Medef, alerta que a França está quase em estado de emergência econômica. Só nos setores de transporte e turismo, as perdas causadas pelos bloqueios dos coletes amarelos a zonas comerciais vão de 20% a 30% no faturamento das empresas.
As reservas de hotéis para as festas de fim de ano em Paris caíram mais de 10%. Já o movimento tende a engrossar, com a adesão de estudantes do Ensino Médio e agricultores, além dos coletes laranjas, os trabalhadores independentes da construção civil.