No início do ano, a missão interplanetária New Horizons fotografou asteroide no Cinturão de Kuiper, que é uma região do nosso Sistema Solar para além da órbita de Plutão.
Na metade do século XX, astrônomos lançaram uma hipótese de que para além da órbita de Netuno haveria uma aglomeração de planetesimais, que são corpos rochosos ou de gelo que teriam se formado no início do Sistema Solar.
Já em 1992, a hipótese foi confirmada com a descoberta de corpos celestes anões mais distantes do que Netuno, a uma distância de 30 a 55 unidades astronômicas da Terra. A área recebeu o nome do astrônomo Gerard Kuiper e foi nomeada Cinturão de Kuiper.
Astrônomos têm conhecimento de cerca de dois mil objetos no cinturão, mas se estima que haja muito mais: por volta de 100 mil objetos com raio de 100 quilômetros. Alguns se movem em órbitas quase circulares, outros em órbitas fortemente alongadas tendo algo distorcido suas trajetórias, o que fez cientistas dividi-los em populações “frias”, que englobam os corpos celestes com órbitas imperturbáveis, e “quentes”, que correspondem aos que possuem órbita influenciável.
Há uma categoria de corpos no Cinturão de Kuiper que orbitam em ressonância com a órbita de Netuno, e de vez em quando eles se aproximam e interferem uns nos outros pela força da gravidade, como é o caso da Terra e da Lua.
Vale destacar o chamado disco disperso, que engloba restos de planetesimais que viajam desde o início da formação do Sistema Solar. Eles ainda não têm uma órbita estacionária, embora algum tempo estejam em ressonância com Netuno e permaneçam no Cinturão de Kuiper.
O Instituto de Astronomia Aplicada da Academia de Ciência da Rússia calculou que a massa do Cinturão de Kuiper é menor em duas vezes a massa da Terra em duas ordens de grandeza.
“A massa total dos todos os objetos, e lá há grandes corpos como Plutão, é aproximadamente 50 vezes maior do que a massa total do cinturão de asteroides, o que dá embasamento para hipótese sobre a formação do Sistema Solar”, afirmou coautora do estudo Elena Pitjeva.
Enquanto há cientistas que consideram que por trás da órbita de Netuno inicialmente havia mais matéria, outros opinam que planetas gigantes viajaram pelo Sistema Solar, se aproximaram do Sol e depois se afastaram dele, acrescenta a cientista.
Para calcular a massa do Cinturão de Kuiper é preciso levar em consideração o movimento de aparelhos espaciais e planetas.
“O impacto do Cinturão de Kuiper é considerável, e, devido ao cinturão, as órbitas dos planetas próximos se deslocam em uns quilômetros a cada dez anos”, apontou a cientista russa.
Em uma recente revisão de pesquisadores da França e dos EUA está descrita a história do Cinturão de Kuiper com ajuda do modelo de Nice, elaborado em 2005 e que teoria que o Sistema Solar era mais compacto, com planetas girando ao redor do Sol em órbitas circulares e se encontrando perto uns dos outros.
Com o desaparecimento do gás do Sistema Solar, toda a “estrutura” começou a se movimentar, os planetas mudaram suas órbitas, espalhando a substância protoplanetária, que uma parte dela teria se juntado atrás da órbita de Netuno, formando, assim, o Cinturão de Kuiper.
Segundo cientistas franceses e norte-americanos, o modelo de Nice tem concordância com muitos fatores observados e permite chegar a uma séria de conclusões que foram provadas ou podem ser provadas. Mas há contradições.
Eles elaboraram uma versão do modelo de Nice – NM12, que é mais eficiente se levar em consideração que no Sistema Solar havia cinco ou mais planetas gigantes, sobrando posteriormente apenas quatro. De acordo com a versão deles, há quatro bilhões de anos, o Sistema Solar começou a ser formado por uma nuvem de gás, e depois de seis milhões de anos, os planetas começaram a mudar de órbita pela falta de espaço. Saturno e Júpiter teriam se afastado para bem longe, empurrando o desconhecido gigante de gelo do Sistema Solar.
É possível que o quinto gigante de gelo ainda esteja entre nós, em uma órbita mais distante do que a de que Netuno, propuseram os astrônomos norte-americanos Konstantin Batygin e Michael Brown em 2016, após analisarem as órbitas anômalas dos objetos espalhados pelo Cinturão de Kuiper.
As órbitas seriam muito alongadas e os periélios estariam agrupados em única região como se alguma coisa massiva os tivesse afetado. Deste modo surgiu uma hipótese sobre um nono planeta que ainda não foi nem comprovada nem desmentida. É provável que ela seja verificada nos próximos anos usando telescópios ou missões espaciais a Urano e Netuno.