Há semanas, o território semiautônomo passa por uma profunda crise política, desencadeada por um projeto de lei que autoriza extradições para a China. Protestos pacíficos gigantescos foram organizados, com casos de confrontos violentos entre a polícia e uma minoria mais radical.
Entre as novas operações previstas pelos manifestantes, está a retirarada de dinheiro ao mesmo tempo, a partir do próximo sábado (13) do Banco da China, um das quatro principais instituições financeiras públicas do país. O objetivo é medir sua capacidade de resistência em termos de liquidez. A estratégia foi muito bem recebida nas redes sociais.
O arranha-céu que abriga a sede do primeiro banco comercial da China para troca de moeda é um dos mais conhecidos da paisagem urbana de Hong Kong. Os manifestantes espalham os convites para aderir à mobilização através de aplicativos seguros, em uso desde o início do movimento.
O texto sobre as extradições foi suspenso, mas isso não foi suficiente para acalmar a revolta da população. As manifestações se transformaram em um movimento maior para exigir reformas democráticas e impedir a erosão das liberdades no território semiautônomo que, desde 1997, retornou ao domínio chinês.
Uso da força
Após uma nova manifestação pacífica no último domingo (7), cujo objetivo era informar os turistas chineses do continente do atual movimento, novos casos de violência foram registrados em Mongkok, na parte continental de Hong Kong.
Os confrontos aconteceram após uma interpelação policial contra pequenos grupos de manifestantes mascarados, que se recusaram a se dispersar. Em um comunicado, a polícia os acusou de participarem de uma “manifestação ilegal”.
“Alguns manifestantes resistiram e a polícia prendeu cinco pessoas por atacarem um oficial e por obstruirem a polícia no cumprimento do dever,” dizia o documento.
Algumas horas antes, outro manifestante havia sido preso por não apresentar seus documentos de identidade.
“O povo de Hong Kong protestou pacificamente contra a lei de extradição e, como resultado, foi espancado pela polícia”, disse em um tuíte Joshua Wong, recém-saído da prisão e um dos rostos que ganharam visibilidade no grande movimento pró-democracia de 2014. A mensagem foi acompanhada de uma foto mostrando duas pessoas com ferimentos na cabeça. “Outro exemplo do uso excessivo da força pela polícia”, escreveu o ativista.
Anistia
O ressentimento contra as autoridades pró-Pequim e a polícia explodiram em 1º de julho, quando jovens manifestantes invadiram o parlamento local. Essas cenas de caos sem precedentes, bem como protestos nas ruas envolvendo até dois milhões de pessoas, não convenceram o governo de Hong Kong a recuar.
Os manifestantes exigem o cancelamento definitivo do projeto de extradição, uma investigação independente sobre o uso policial de balas de borracha, anistia para os detidos e a renúncia da dirigente de Hong Kong, Carrie Lam. Eles também exigem não serem mais chamados de “manifestantes”, uma definição que leva a sentenças de prisão muito mais pesadas.
Pequim pressiona as autoridades, pedindo uma investigação criminal contra os envolvidos nos episódios de violência.
Lam, que quase desapareceu de circulação, exceto por uma conferência de imprensa realizada após a invasão do Parlamento, se reunirá com jornalistas nessa terça-feira (9).
Apesar de vários pedidos, a polícia se recusa a dizer quantas pessoas foram presas desde o início de junho. Segundo uma contagem da AFP, pelo menos 72 pessoas foram detidas. Não se sabe quantas delas foram indiciadas.