Problema em hidrantes colaborou para fogo se alastrar
O comandante do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, coronel Roberto Robadey, afirmou que um problema no funcionamento dos hidrantes contribuiu para o fogo se alastrar na região do parque, na Quinta da Boa Vista onde está o Museu Nacional.
Segundo o coronel, foi preciso pedir apoio à Companhia de Águas e Esgotos do Rio (Cedae) para ceder carros-pipa. Também foi utilizada água do lago da Quinta da Boa Vista.
“Pedimos apoio a eles [da Cedae] de carros-pipa e também trouxemos os nossos carros da Baixada Fluminense. Os dois hidrantes mais próximos estavam sem carga”, disse o militar.
Ele lembrou que, ao chegar ao local do incêndio, o fogo estava de média para grande proporção. O comandante não confirmou as primeiras informações de que o fogo teria começado no primeiro andar.
Operação
De acordo com o comandante, a operação contou com 80 militares e 21 viaturas de 12 quartéis da capital e de municípios vizinhos. Robadey descartou a possibilidade de desabamento.
“As paredes são muito grossas. O prédio é muito antigo. Os pavimentos internos desabaram”, disse o militar. Agência Brasil
Faltou água para apagar incêndio no Museu Nacional
O comandante do Corpo de Bombeiros revelou ao jornal O Globo que Cedae precisou enviar caminhões-pipa, pois os hidrantes próximos ao Museu Nacional não estavam funcionando.
O comandante do Corpo de Bombeiros, Roberto Robadey Costa Junior, conversou com a Globo na noite deste domingo. Segundo ele, 80 homens de 12 quartéis e 21 viaturas trabalham no combate ao fogo.
“Vim aqui dar essa entrevista, porque só agora posso garantir que tem água suficiente para combatermos o incêndio”, disse o militar ao jornal.
Segundo a assessoria de imprensa do Museu Nacional, o incêndio começou por volta das 19h30.
O comandante explicou que o incêndio já era de médio a grande porte quando a primeira equipe de bombeiros chegou ao local. Os bombeiros ainda conseguiram retirar algumas peças do acervo “da parte de trás do palácio, que ainda não havia sido atingido pelo fogo”.
“Alguns pavimentos já foram para o chão. Mas como é um prédio antigo, com paredes grossas, os engenheiros avaliaram que não há risco de desabamento, pelo menos da fachada.”
O comandante confirmou que ninguém ficou ferido, e que também não há risco para o zoológico, que fica na proximidade.
O comandante explicou que o Museu Nacional não tinha estrutura de combate a incêndio, como determina a legislação. Há um mês, a instituição procurou os bombeiros, pois tinha conseguido recursos para regularizar a situação, lamentou ele.
Os funcionários do Museu também reclamaram da falta de água. Em um vídeo publicado no Facebook, uma das testemunhas narra as dificuldades encontradas pelos bombeiros nos momentos iniciais do incêndio.
Além da água para apagar o incêndio, em algum momento os próprios bombeiros ficaram sem água potável. Antes do incêndio ser controlado, os militares pediram apoio da população.
“Acabaram de bater na minha porta para pedir garrafas de água para os bombeiros! A vizinhança está se mobilizando para que as garrafas de água cheguem até os bombeiros!”, disse a professora Katia Sant’Anna, que mora nas proximidades do Museu Nacional, à Sputnik Brasil. (Sputnik Brasil)
Pesquisadores de museologia pedem colaboração para resgate de acervo
Com a destruição da maior parte do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, pesquisadores, funcionários e colaboradores da área de museologia buscam resgatar tudo que está relacionado ao material que havia ali. Eles pedem que aqueles que tiverem imagens, sejam fotografias, vídeos e selfies, dos espaços e acervo atingidos pelas chamas enviem para o grupo.
Em nota, o grupo apela para que o material seja encaminhado ao e-mail: thg.museu@gmail.com
Até as primeiras horas de hoje (3) a assessoria de imprensa do Museu Nacional do Rio não tinha informações completas sobre as perdas causadas pelo incêndio. Informava apenas que a maior parte do acervo foi destruída.
O acervo reunia mais de 20 milhões de itens de variados temas, incluindo coleções de geologia, paleontologia, botânica, zoologia e arqueologia. No local, estava a maior coleção de múmias egípcias das Américas.
Ali também estava Luzia, o mais antigo fóssil humano encontrado nas Américas, que remete a 12 mil anos e representa uma jovem de 20 a 24 anos. No museu, havia ainda o esqueleto do Maxakalisaurus topai, maior dinossauro encontrado no Brasil.
O museu é a mais antiga instituição histórica do país, pois foi fundado por dom João VI, em 1818. É vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com perfil acadêmico e científico. Tem nota elevada nos institutos de pesquisa por reunir peças raras, como esqueletos de animais pré-históricos e múmias. (Agência Brasil)
Incêndio destrói Museu Nacional do Rio de Janeiro
Um grande incêndio ocorreu no Museu Nacional do Rio de Janeiro, causando enormes danos.
O fogo teve início no domingo, dia 2, à noite, após o encerramento da visitação pública.
Os funcionários dizem que ninguém se feriu, mas que o fogo havia destruído quase que completamente o prédio que conta com 200 anos de história. Também disseram que se perdeu a maioria da coleção que consiste de mais de 20 milhões de itens.
O acervo do museu contava com múmias de indígenas da América do Sul e espécimes botânicos. Também consistia em importante base de investigação da história natural da região e antropologia. (NHK)
Atos são convocados para protestar contra incêndio do Museu Nacional
Segundo relatos, Museu Nacional tinha acabado de inciar treinamento de brigadas de incêndio semanas antes da tragédia.
A revolta e o desnorteamento da população brasileira ainda são grandes com a notícia da possível perda quase total do acervo do Museu Nacional. Para muitos, o incidente reflete o descaso com que a ciência vem sendo tratada no Brasil. Por isso, grupos de estudantes já estão convocando para esta segunda-feira (3) atos para protestar contra o ocorrido, bem como para chamar a atenção para a forma com que governo vem tratando a ciência.
O doutorando em Botânica no Museu Nacional do Rio de Janeiro e representante dos alunos de sua área, Igor Kessous, comentou o incêndio que se alastrou pela ala de exposições e pela parte de trás do palácio, “onde existiam diversos laboratórios de pesquisa”.
“Quando se descreve uma espécie para a ciência, você tem um indivíduo que foi coletado na natureza e foi colocado no acervo. Aquele indivíduo é a cara da espécie. Ali existiam diversas espécies. Milhares. Imensuráveis. De insetos, de aranhas, que ficavam naquele palácio. Provavelmente isso se perdeu. São anos. Ali existiam coletas do século 19. São 200 anos perdidos mesmo”, lamentou Igor.
Diversos atos estão sendo convocados pelo Facebook para protestar contra o ocorrido, bem como contra a situação nas áreas de ciência, educação e cultura. Igor é organizador de um dos eventos com maior mobilização até o momento.
“A pauta principal é o descaso com a ciência. Porque o museu não tem mais como recuperar. Podem até restruturar o museu posteriormente, o que acho muito difícil. Mas o que foi perdido ali nunca vai ser recuperado. Vejo esse evento como o principal marco do descaso com a ciência no Brasil”, explicou ele.
“A direitoria vinha pedindo dinheiro ao BNDES ao longo de anos. E o dinheiro tinha sido liberado, só que não saía, para reformar [o museu]. Nesses últimos meses, o diretor tinha implantado cursos de brigada de incêndio. É uma coincidência muito triste.”
“Todas as pessoas que conheço da comunidade do museu — técnicos, professores, alunos — quando você fala com a pessoa, a pessoa está aos prantos em casa. Porque aquilo ali é nossa história. É história do mundo. Não é só história do Rio de Janeiro ou do Brasil. Ali tem coisas do mundo inteiro. Tem múmia do Egito. Estava na exposição e o telhado caiu”, concluiu o interlocutor da Sputnik Brasil. (Sputnik Brasil)
A destruição para além do físico
Incêndio do Museu Nacional pode impactar na forma como narramos o passado e como produziremos conhecimento no futuro
O incêndio que destruiu o Museu Nacional/UFRJ na noite de domingo, dia 2, levou consigo muito mais do que um prédio histórico que abrigou a família real.
Aliás, desde quando se transformou em Museu Nacional, a instituição fazia questão de se apresentar como um espaço de produção e exposição de ciência.
Quem visitasse esperando um trono real de D. João VI sairia desolado. Poucas referências à presença dos imperiais apareciam em seus corredores. Ainda assim, indiretamente os antigos moradores estavam presentes na exposição.
A cadeira real do antigo imperador do Brasil não estava ali, mas outro trono tinha destaque no acervo. Era do rei Adandozan, do reino de Daomé (atual Benin), na África, e que foi dado em 1811 para Dom João VI como uma prova da boa relação que o reino português – recém fugido para o Brasil – queria manter com este povo.
Uma peça que contribuiu nas relações diplomáticas que consolidaram na trágica história escravista do país.
Muito perto deste trono também havia um manto real. Novamente, não era da família portuguesa. Era um presente, cheio de plumas, do rei Tamehameha II, das ilhas Sandwich (atual Havaí) ao imperador D. Pedro I.
A possível perda destes itens configura um vazio no entendimento de uma relação entre o Brasil e povos estrangeiros que até hoje não é tão exposta ao grande público. Em um museu com uma entrada de R$ 3, ela se tornava mais difundida.
As tão comentadas exposições de Grécia, Roma e Egito também tiveram seu surgimento atrelado às aquisições da família real. D. Pedro, por exemplo, comprava múmias de mercadores para sua coleção particular.
Seu filho, D. Pedro II, chegou a fazer expedições ao Egito para comprar mais. Dentre as adquiridas, existe uma cujo processo de mumificação é bastante raro: cada parte do corpo é enrolada de forma que se possa identificar dedos, braços e pernas.
Somente outras seis no mundo obedecem a esta lógica. Uma peça cuja preservação é de interesse mundial e que atravessou milhares de anos.
Já a imperatriz Teresa Cristina contribuiu com a exposição de Grécia e Roma ao ter expostos os vasos etruscos que tinha comprado. São peças que detalhavam hábitos cotidianos de povos da península de Itálica de uma época anterior ao nascimento de Jesus Cristo. Ao contrário do que muito foi escutado na cobertura do incêndio, o acervo do Museu Nacional transcende os seus 200 anos.
A exposição era muito mais do que as peças adquiridas pela família real. Aquele prédio também era uma instituição de produção de conhecimento. Estavam ali os fósseis de Luzia, a mais antiga moradora de nossas terras e que mudou a percepção sobre o deslocamento da humanidade da África até a América.
É também o museu que fez importantes descobertas paleontológicas e se transformou em um dos principais centros de estudo na América Latina. São dezenas de pesquisadores que perdem completamente suas pesquisas. O prédio, tombado como patrimônio público, poderá ser reerguido. Não será como antes, infelizmente.
Ainda assim, irrecuperáveis serão as peças e pesquisas que, porventura, forem destruídas. Surgirão lacunas na já tão complicada forma como narramos e lidamos com o nosso passado e um atraso cientifico que impedirá a produção de conhecimentos futuros.
Raphael Kapa é jornalista, historiador, doutorando em História pela UFF e trabalhou como instrutor na exposição do Museu Nacional por seis anos. (Agência Brasil)
UFRJ: incêndio no Rio é a maior tragédia museológica do país
A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), responsável pelo Museu Nacional no Rio, lamentou em nota o incêndio que começou na noite desse domingo (2) e destruiu o prédio histórico. “É a maior tragédia museológica do país. Uma perda incalculável para o nosso patrimônio científico, histórico e cultural.”
No texto, a UFRJ se solidariza, em nome do Instituto Brasileiro de Museus, com servidores e pesquisadores do Museu Nacional, no que considera um triste registro da história.
“Tamanha perplexidade que toma a todos, nos defronta com o maior desafio dos museus: consolidar e implementar uma política pública que garanta, de forma efetiva, a manutenção e conservação de edifícios e acervos do patrimônio cultural brasileiro”, destaca a nota.
O reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Leher, informou que terá hoje (3) uma reunião com o ministro da Educação, Rossieli Soares, e cobrará do governo federal empenho para reconstruir o prédio e o acervo da instituição, que, segundo o próprio Museu Nacional, tem a maior coleção da América Latina. “Para o país, é uma perda imensa. Aqui temos a nossa memória. Grande parte do processo de constituição da história moderna do Brasil passa pelo Museu Nacional. Este incêndio sangra o coração do país.” (Agência Brasil)