Uma iniciativa do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJSP) está ajudando a encontrar um lar para crianças que tinham dificuldades de encontrar famílias interessadas na fila da adoção. O projeto “Adote um boa-noite” divulga a imagem e o perfil de crianças e adolescentes cadastradas nas varas da Infância e Juventude do estado e que até hoje não tiveram nenhuma demonstração de intenção para serem adotados.
O juiz Iberê de Castro Dias, um dos responsáveis pelo projeto, conta que em um ano já foram concluídos quatro processos de adoção e 17 estão em andamento. Para ele, os números mostram que a inciativa tem dado certo. O magistrado explica que o processo de adoção envolve diversas etapas, com prazos estabelecidos em lei. “O processo de adoção para ser feito com todas as etapas, com calma, como deve ser, demora mais de um ano”, afirma.
Esse tempo é importante, de acordo com Dias, para garantir a adaptação entre a criança e a família e evitar problemas no futuro. “Não adianta tentar apressar e depois, lá na frente, a adoção dar errado. A gente tem que ter sempre muita calma para diminuir o risco de dar errado”.
O projeto foi lançado como experiência piloto em duas varas da Juventude da capital paulista, em Santo Amaro (zona sul) e Tatuapé (zona leste). Com os resultados positivos, atualmente podem ser incluídas crianças das mais de 300 varas de todo o estado. Os perfis são expostos na página da iniciativa: adoteumboanoite.com.br
Critérios de seleção
Para participar, os jovens têm que se enquadrar em uma série de critérios, a começar pela falta de interessados em fazer adoção. Além disso, tem que ter 8 anos ou mais, faixa com pouco interesse das famílias, e passar por uma avaliação psicossocial. “Para que os psicólogos e assistentes sociais entendam se essas crianças vão tomar a participação no projeto e a exposição como algo positivo, se elas estão preparadas para isso”, ressalta o juiz. As crianças com deficiência também têm preferência no projeto.
O magistrado diz que a ideia é colocar os jovens em uma posição de sujeito de direitos. “As crianças ali não estão como coitadinhas, que estão precisando de uma família. A ideia é dar visibilidade a elas como sujeito que tem direito à convivência familiar, à educação e à cultura”.
Desde o começo da proposta, na fase piloto, até o momento atual foram feitos alguns aperfeiçoamentos. Dias conta, por exemplo, que foi preciso estabelecer critérios para lidar com o grande número de famílias interessadas. “De zero interessados no Brasil, para algumas crianças aparecem dezenas de interessados. A gente precisa fazer uma triagem dessa demanda”, comenta.
Um dos critérios para selecionar as famílias é a proximidade em relação ao local onde o jovem vive. “Facilita muito a fase de adaptação. A criança não precisa sair do seu ambiente de origem, continua no lugar onde ela está acostumada”, acrescenta Dias.