Na noite do dia 9 para o dia 10 de novembro de 1938 o governo alemão, sob o regime nazista, autorizou o ataque físico aos judeus. Sinagogas, casas e lojas foram depredadas e queimadas. Mais de 30 mil judeus foram presos e 100 assassinados. O episódio ficou conhecido como a Noite dos Cristais pelos cacos das vitrines e janelas que cobriam as ruas no dia seguinte.
Os 80 anos da data são lembrados nesta noite desta segunda-feira (12) em uma cerimônia no Memorial da Imigração Judaica e do Holocausto no Bom Retiro, região central da capital. A instituição foi inaugurada há um ano e já recebeu mais de 15 mil visitas.
O ato pretende reunir a comunidade judaica, sobreviventes do Holocausto e autoridades. Na oportunidade, serão lançados o terceiro e quarto volume da coleção Vozes do Holocausto das pesquisadoras Maria Luiza Tucci Carneiro e Rachel Mizrahi. As obras trazem mais de 300 relatos de refugiados do nazifascismo e de sobreviventes do massacre dos judeus. As autoras fazem parte do Laboratório de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação (LEER) da Universidade de S. Paulo (USP).
Também será lançado o livro de fotos Sobreviventes do Holocausto do fotógrafo e membro da curadoria do memorial Luiz Rampazzo.
O início do Holocausto
Até a Noite dos Cristais, a Alemanha, sob o comando dos nazistas, havia adotado diversas leis e medidas discriminatórias contra os judeus, mas foi a partir desse momento que começou a violência física. Por ordem de Joseph Goebbels, Ministro da Propaganda e uma das principais figuras da cúpula nazista, foi autorizada a destruição das propriedades dos judeus no território alemão.
“O Estado oficializou. Era permitido esse massacre, e a população foi conivente. Os policiais e os bombeiros foram proibidos de intervir a favor dos judeus. Só era permitido intervir se ameaçasse algum cidadão alemão ou algum imóvel, algum prédio de residência dos alemães”, explica a historiadora e orientadora pedagógica do memorial, Ilana Iglicky.
As turbas destruíram cerca de 7,5 mil lojas e 1,4 mil sinagogas naquela noite. Ilana conta que em Viena, capital da Aústria, apenas uma sinagoga sobreviveu. “Ela começou a pegar fogo, foi incendiada pela população. Um bombeiro acabou apagando o fogo porque viu que poderia incendiar um prédio ao lado de moradores vienenses”, conta.
Resistência ao terror
Apesar dos horrores que levaram à morte aproximadamente 6 milhões de judeus, a professora destaca que é importante lembrar que muitas pessoas se opuseram ao regime e ajudaram a salvar os perseguidos. “Temos a nossa querida Aracy Guimarães Rosa que emitiu vistos, mesmo contra as ordens do governo brasileiro, para várias famílias judias e, assim, conseguiu salvar várias pessoas”, ressalta sobre a segunda esposa do escritor João Guimarães Rosa que trabalhou no consulado brasileiro em Hamburgo.
Manter viva a lembrança das atrocidades é fundamental, segundo Ilana, para evitar que situações assim se repitam no presente ou no futuro. “É importante lembrar para não voltar a acontecer. Infelizmente, ainda hoje nós temos os que negam o holocausto e muitos atos de xenofobia acontecendo no mundo inteiro. Acho que o mundo não aprendeu ainda. Acho que temos que, sim, lembrar para que as pessoas possam ter mais tolerância e consigam viver com harmonia.”
Por Agência Brasil.