O Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional tombou um geoglifo de mais de 2 mil anos, no estado do Acre, como patrimônio cultural brasileiro. A inscrição que levanta diversas teorias sobre a sua origem na internet, que vão desde o culto a deuses antigos até marcas de visitas alienígenas, passará a ser protegida pelo instituto.
Em entrevista à Sputnik Brasil, o diretor do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan, Flávio Calippo conta que ainda há pouca pesquisa sobre o significado dessas estruturas, mas que os pesquisadores creditam sua construção a antigos habitantes da região.
“Nós ainda não temos muitas pesquisas que explicam de maneira muito precisa o significado desses sítios e por que eles foram construídos. Os pesquisadores acreditam que existe alguma relação simbólica de marcar essas áreas como uma forma de prestar reverências a seus deuses, por que elas ficam muito marcadas vistas do alto. Mas existem outras pesquisas que mostram que essas estruturas podem ser valas defensivas, para a captura de animais ou para a captura de água”, explica o arqueólogo.
A “tatuagem da terra”, como é chamada pelos indígenas, faz parte de um conjunto de mais de 500 sítios descobertos na Amazônia Brasileira nos últimos anos, com o avanço do desmatamento na região. Os sítios tem forma geométrica e muitas vezes compõem-se de uma mistura dessas formas, em valas escavadas na terra com profundidade de até 2,5 metros.
O geoglifo tombado pelo Iphan está localizado no Sítio Arqueológico Jacó Sá, em Rio Branco, e chega a lembrar a bandeira brasileira devido ao seu formato.
Calippo conta que a intenção do tombamento é não só proteger, mas também chamar a atenção para o patrimônio que vem sendo descoberto, ironicamente, com a diminuição das matas na região.
“Esse patrimônio, com a diminuição das áreas de mata, começou a aparecer muito. Então, a ideia do tombamento é para que a gente possa chamar a atenção e destacar a importância desse tipo de sítio para se pensar a própria ocupação da floresta, porque durante muito tempo se acreditou que não existiu na floresta Amazônica sociedades mais complexas e sim grupos mais isolados, que não tinham condições de desenvolver estruturas sociais e políticas mais complexas. Esses sítios estão mostrando, pela própria dispersão das formas ao longo de áreas muito grandes, que existia uma conexão maior”, ressalta o representante do Iphan.
O arqueólogo defende ainda que o tombamento vai impulsionar as pesquisas sobre esse tipo de inscrição, que pode ajudar a entender o processo de ocupação e povoamento da região.
“O tombamento é uma das formas que o Iphan tem de proteger o patrimônio. […] Ele tem uma perspectiva mais abrangente, além de simplesmente documentar o sítio. Ele passa a fazer parte de um cadastro de sítios que o Iphan, além de criar medidas de proteção, vai tentar induzir ações de pesquisa”, destaca o diretor do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan.
A expectativa é que mais sítios sejam descobertos nos próximos anos. “Nem toda a região foi completamente mapeada, mas já encontramos geoglifos no Acre, alguns em Rondônia e alguns poucos já estão aparecendo no Amazonas”, conta Calippo.
De acordo com os pesquisadores, essas inscrições foram feitas entre 800 e 2.500 anos atrás. Para saber a idade de cada um deles, o arqueólogo explica que eles recolhem vestígios que são enviados para laboratórios para que seja estimada a idade dos geoglifos.
“Na hora que os arqueólogos vão (ao local), eles analisam, além da estrutura, os próprios materiais presentes, como a cerâmica e restos de fogueira. Nesse sítio foram encontradas amostras de carvão. A partir dela foi possível mandar para um laboratório que é capaz de dizer a idade de quando essa madeira virou carvão. Então, a gente sabe quando ele foi utilizado ou quando o sítio foi utilizado pela última vez. Isso permite que tenhamos a idade média daquele sítio”, explica.
Além de impulsionar as pesquisas entorno dos geoglifos, o Iphan acredita que a escolha dessa inscrição no Sítio Arqueológico Jacó Sá como o primeiro a ser tombado pelo instituto é importante devido ao seu fácil acesso e clara identificação pelos visitantes, que pode oferecer um potencial atrativo turístico para a região. Flávio Calippo conta que o geoglifo tombado possui características que o difere dos demais descobertos.
“É uma estrutura bastante ímpar entre as outras. Porque ela permite que você tenha essa visualização das valas não só a partir do alto, mas você consegue perceber a partir também de quem está em terra”, conta.
Junto aos demais geoglifos do Acre, ele compõe a Lista Indicativa a Patrimônio Mundial, destacados por sua excepcionalidade e relevância enquanto exemplares únicos do patrimônio histórico de todo o mundo. O processo precisa ser avalizado agora pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO).