“Os ataques e o linchamento da mídia que minha família está passando me levam a tomar o recuo necessário – que todos poderão entender. A mobilização para que eu possa me defender faz com que eu não esteja em condições de assumir serenamente e de forma eficaz a missão que me foi confiada pelo presidente da República e pelo primeiro-ministro”, escreveu De Rugy em um comunicado. Número dois do governo, ele deveria defender hoje no Senado um projeto de lei sobre energia e clima.
A queda de De Rugy começou na semana passada. No dia 10, o site Mediapart revelou que o político e sua mulher, Séverine, organizaram dezenas de jantares suntuosos “informais” com dinheiro público, no período em que ele ocupou o cargo de presidente da Assembleia Nacional, entre junho de 2017 e setembro de 2018. Nesses encontros, os convidados – empresários, acadêmicos, intelectuais e artistas – eram brindados com vinhos de até € 550 a garrafa e pratos à base de lagosta e outros crustáceos. Ele deixou o cargo para ser ministro da Transição Ecológica, mas, antes de se instalar no apartamento de função na sede do ministério, fez reformas que custaram € 63.000, pagos pelos contribuintes franceses. Essas revelações, após sete meses de crise dos “coletes amarelos”, desgastaram a imagem do ministro e inviabilizaram sua permanência no governo.
Novas revelações
O jornalista do Mediapart e autor da reportagem, Fabrice Arfi, reagiu à demissão. O profissional afirmou que “a informação foi mais forte do que a comunicação”. Depois da divulgação do caso, De Rugy chegou a afirmar em uma entrevista que não comia lagosta nem caviar porque era alérgico. “Mediapart apenas fez o seu trabalho e vai continuar a fazer”, afirmou o jornalista.
O site publicaria nas próximas horas uma nova reportagem sobre as despesas de De Rugy enquanto ele era deputado. A publicação online chegou a escrever ao ministro nesta segunda-feira (15), solicitando esclarecimentos sobre a natureza de alguns gastos e deu prazo para ele apresentar as respostas até as 14h desta quarta-feira. Antes de vencer o prazo, De Rugy apresentou sua carta de demissão ao chefe do Governo, Édouard Philippe.
O presidente Emmanuel Macron aceitou a renúncia do ministro.