A brincadeira foi proibida no Paquistão, provoca uma verdadeira paranoia na Índia e o Canadá decidiu alertar oficialmente suas escolas contra o acesso de crianças e adolescentes ao jogo. O “Momo Challenge”, que provocou a morte de uma argentina de 12 anos, e de uma colombiana de 16, preocupam agora as autoridades francesas: um parlamentar chegou a pedir ao Ministro do Interior da França, Gérard Collomb, medidas para reduzir os riscos desta brincadeira, acessível gratuitamente por WhatsApp.
De inocente, o “Momo Challenge” não tem nada. O chat [conversa] com o personagem “Momo”, facilmente acessível pelo aplicativo de conversas instantâneas WhatsApp, pode, segundo especialistas ouvidos pela imprensa francesa, provocar uma série de problemas junto ao público infanto-juvenil, seu principal alvo e público fiel.
Serviços especializados em segurança cibernética evocam riscos de extorsão, roubo de dados pessoais, assédio, mas também incitação à violência, autoflagelação ou até mesmo suicídio, segundo relatos publicados pelo jornal francês Le Monde. Como pano de fundo, o espectro do Blue Whale Challenge (Desafio da Baleia Azul), uma série de desafios lançados na Rússia e associados em 2017 a uma onda de cerca de cem suicídios entre jovens, ainda assusta as autoridades de todo o mundo.
Adolescentes franceses consultados pela RFI explicaram a mecânica do “Momo Challenge”: “na verdade, você deve se conectar a um número via WhatsApp, o número do Momo, e ele te pede para fazer coisas esquisitas, ruins. Ou ele começa de repente a falar tudo sobre você, ele pode te hackear”, afirmam os garotos, que frequentam um liceu da região parisiense, onde o assunto domina todas as conversas, desde a volta às aulas, em setembro.
Don't meddle with her. She is dangerous, dirty and disastrous to your life.#MomoChallenge @odisha_police
See detailed advisory here.https://t.co/DLX8Kg9VSG pic.twitter.com/GQgnDr1IJq
— Crime Branch, Odisha Police (@CIDOdisha) September 3, 2018
Os entrevistados, no entanto, admitem nunca terem participado do desafio em questão. O assunto ganha ares de lenda urbana, embora números variados com DDDs do Japão, do México e de outros países venham se multiplicando. Na verdade, qualquer um pode se autodenominar “Momo” e exigir o cumprimento de tarefas extremas, que podem chegar até ao suicídio, segundo alguns testemunhos, nem sempre fiáveis.
Origens do “Momo Challenge”
Há apenas dois meses, uma foto postada no fórum Reddit, no dia 10 de julho, pelo usuário AlmightySosa00, mostra uma mulher nua com pés de galinha e uma careta, colecionando 5.000 “curtidas” e 1.000 comentários, fascinando a comunidade. Um usuário do Reddit identificou a imagem: trata-se de uma fotografia de uma escultura tirada em 2016 em uma galeria de arte de Tóquio. Os Yokai, espectros do folclore japonês, são o tema da exposição, e a obra é assinada pela Link Factory, uma empresa de efeitos especiais para filmes de terror.
A escultura, batizada como “Ubume”, leva o nome de uma figura tradicional japonesa que correspondente ao fantasma de uma mãe morta no parto. Deve sua aparência a um jogo com os três ideogramas japoneses que compõem seu nome, 姑獲鳥- literalmente “mãe”, “captura” e “pássaro”.
Febre no Youtube
As primeiras menções públicas de um número do WhatsApp ligado ao Momo Challenge também datam de 10 de julho. No YouTube, um usuário argentino conhecido como El Deadpool publica uma tentativa de conversa com o “Momo”, datada do dia anterior, em um vídeo intitulado “Eu envio mensagens para Momo, o maldito número do WhatsApp”. No dia seguinte, o youtuber venezuelano DrossRotzank, cujo nome verdadeiro é Ángel David Revilla, dedica a este “Momo” ainda desconhecido e secreto um vídeo de oito minutos, que o transforma em uma estrela da web. O ex-jornalista, escritor de ficção científica e “cinegrafista do sobrenatural”, desfruta de uma comunidade de 14 milhões de assinantes na América do Sul.
Segundo o jornal francês Le Monde, a figura do “Momo” começa então a fazer parte de um registro clássico da Internet, o de creepypasta: uma lenda urbana repleta de mistério e terror. “Mais de 11 milhões de visualizações depois, o Momo ficou famoso. Sua fama atinge um novo patamar quando Brian Sobrevilla, o superastro mexicano do YouTube, publica seu próprio vídeo, desta vez humorístico, sobre ‘o número maldito do WhatsApp’, atingindo 16 milhões de visualizações”, publica o vespertino.
Os vídeos sobre a “mulher-galinha” começam então a se proliferar no YouTube, sempre com a mesma receita: um desafiante anuncia que entrará em contato com o personagem perturbador. Depois de alguns diálogos digitados no WhatsApp, fenômenos estranhos parecem ocorrer: Momo se torna agressivo, profere insultos, e começa a revelar dados pessoais. Além da febre de vídeos de youtubers, que ganham fama do dia para noite, uma epidemia de “Momos”, surgiu no aplicativo, sempre com números diferentes.
Suicídios
O jornal Washington Post relaciona o suicídio de duas adolescentes, respectivamente de 12 e 16 anos, na Argentina e na Colômbia, ao “Momo Challenge”. O jornal Buenos Aires Times reportou que a argentina de 12 anos foi encontrada enforcada no quintal de sua casa. Seu celular, encontrado próximo a seu corpo, traz indícios de que a garota teria publicado um vídeo nas redes sociais após comandos do “Momo Challenge”. Lenda urbana, ou verdadeira ameaça ao público infanto-juvenil, as autoridades de todo o mundo procuram monitorar o fenômeno de perto.
Em uma entrevista à Fox News, um porta-voz do WhatsApp disse que a empresa, “propriedade do Facebook”, tem muito cuidado com a “segurança dos usuários”, acrescentando: “É fácil bloquear qualquer número de telefone, estamos tentando encorajar jovens usuários a reportar essas mensagens problemáticas para que nós possamos agir”.