O ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan morreu nesta sábado (18) no hospital onde estava internado em Berna, na Suíça. Nascido em Gana, Annan estava com 80 anos e morreu de uma doença súbita, de evolução rápida, segundo o comunicado publicado por familiares no site da fundação que leva seu nome.
“Nós choramos hoje a perda de um grande homem”, reagiu a agência da ONU para Migrações (OIM). O atual secretário-geral António Guterres declarou que o diplomata ganense era “uma força que guiava para o bem”.
Annan dirigiu a ONU de 1997 a 2006. Ele teve seu trabalho pela paz mundial reconhecido em 2001, com o Prêmio Nobel da Paz, que dividiu com as Nações Unidas. “Eu tentei colocar o ser humano no centro de tudo o que fazemos: da prevenção de conflitos ao desenvolvimento e direitos humanos”, declarou, na cerimônia em que recebeu o Nobel em Oslo.
Independência
Sob sua direção, a ONU enfrentou a invasão do Iraque pelos Estados Unidos e a Grã-Bretanha, em 2003. Apesar de dever sua nomeação a Washington, isso não o impediu de demonstrar independência em relação às grandes potências. Ele irritou o governo americano ao considerar “ilegal” a invasão do Iraque, sem a devida autorização do Conselho de Segurança. Anos mais tarde, ele continuou afirmando que o conflito representou um retrocesso de décadas para o Iraque.
Em 2004, Annan foi envolvido no escândalo de corrupção Petróleo por Comida, gerenciado pelas Nações Unidas. O objetivo do programa de US$ 600 milhões era permitir ao Iraque comprar alimentos, remédios e outros produtos de caráter humanitário usando o dinheiro arrecadado com a venda de petróleo. Mas um jornal iraquiano apontou desvios nas operações. Cerca de 270 pessoas e organizações foram implicadas nas irregularidades, incluindo uma empresa do filho do dirigente, Koji Annan, instalada na Suíça. Apesar do constrangimento, Annan deixou seu posto na ONU como um dos líderes mais populares da organização.
Entre fevereiro e agosto de 2012, a convite do ex-secretário Ban Ki-Moon, Annan atuou como mediador da Liga Árabe e da ONU para a crise síria. Ele lançou várias advertências sobre a gravidade da crise sectária na Síria, apontando a violência crescente do regime naquele contexto de início de guerra na Síria. Annan chegou a elaborar um plano de paz de seis pontos, que previa, principalmente, o fim dos combates entre o governo e a oposição armada, acompanhado de um processo de transição política. Mas ao final de seis meses de esforços diplomáticos, Annan apresentou sua renúncia alegando falta de apoio que a causa síria merecia.
Uma vida dedicada à ONU
Depois de uma rápida passagem como diretor de turismo de Gana, Annan dedicou 40 anos de sua vida profissional às Nações Unidas. Primeiro, ele liderou a área de recursos humanos, depois cuidou do orçamento, antes assumir, em 1993, o departamento de manutenção da paz. Quatro anos mais tarde, ele era indicado para dirigir a organização.
Quando chefiou o departamento de manutenção da paz, a ONU viveu dois dos episódios mais sombrios de sua história: o genocídio de Ruanda e a guerra na Bósnia.
Os capacetes azuis acabaram se retirando de Ruanda, em 1994, sem conseguir controlar a violência étnica entre extremistas hutus e tutsis. calcula-se que 800 mil pessoas tenham morrido nesse conflito.
A ONU também não conseguiu impedir as forças sérvias de massacrar milhares de muçulmanos em Srebrenica, na Bósnia.
Em sua autobiografia, Annan disse que esses fracassos o fizeram compreender o que se tornaria o seu maior desafio como secretário-geral: mostrar ao mundo “a legitimidade de intervenções em casos de grave violação dos direitos humanos”.
Nascido em abril de 1938 em Kumasi, filho de um empregado de uma subsidiária do grupo anglo-holandês Unilever, Annan estudou na Universidade de Kumasi, em Gana. Depois, graças a uma bolsa de estudos, frequentou uma universidade americana, antes de para entrar no Instituto de Estudos Internacionais Superiores de Genebra.
Em 1965 ele se casou com a nigeriana Titi Alakija, nascida em uma família rica da Nigéria. O casal teve dois filhos, Kojo e Ama, e se separou no final dos anos 1970. Em 1984, ele se casou novamente com Nane Lagergren, uma advogada sueca com quem teve uma filha, Nina.
Annan criou uma fundação dedicada ao desenvolvimento sustentável e à paz. Ele integrou o grupo dos Sábios, criado por Nelson Mandela para promover a paz e os direitos humanos.
O presidente de Gana, Nana Akufo-Addo, decretou uma semana de luto nacional no país a partir de segunda-feira (20) em homenagem a um de seus cidadãos mais ilustres. “Ele contribuiu consideravelmente para a reputação de nosso país por sua posição, sua atitude e seu comportamento no mundo”, declarou o líder ganense.