Vincent Lambert, um ex-enfermeiro, morreu aos 42 anos. Em 2008, ele sofreu um grave acidente de carro e, desde então, estava em estado vegetativo irreversível. A batalha na justiça sobre a interrupção ou não da alimentação artificial que o mantinha vivo dividiu sua família e a sociedade durante mais de seis anos.
De um lado, estavam os pais de Vincent, Viviane e Pierre Lambert, católicos fervorosos que eram contra o fim do tratamento. Eles tinham apoio de várias associações religiosas e contra a eutanásia.
Do outro, a mulher dele Rachel, o sobrinho François e seis irmãs e irmãos que pediam o fim da manutenção artificial em vida de Vincent. Eles defendiam “uma morte digna” e o fim da “crueldade terapêutica”, garantindo que este era o desejo de Vincent antes do acidente.
Por decisão da Corte de Cassação, a mais alta instância da justiça na França, o tratamento foi suspenso na semana passada. Com fim da hidratação e alimentação por sonda, Vincent Lambert vinha recebendo sedação profunda e contínua, segundo o protocolo médico.
Sua morte foi anunciada na manhã de hoje pelo sobrinho François que expressou “alívio após anos de sofrimento para todo mundo”. “Estávamos preparados para sua partida”, completou o sobrinho.
Pais denunciam assassinato
Um dos advogados dos pais de Vincent, Jean Paillot, confirmou a informação e disse que chegou o momento de “recolhimento”.
“Anunciamos com o coração partido que Deus acolheu nosso amado Vincent”, declarou à AFP David Philippon, meio-irmão do paciente e também contrário à interrupção do tratamento.
A mãe insistiu até o fim na tentativa de manter o filho com vida. “Está minimamente consciente, mas não é um vegetal”, declarou Viviane na segunda-feira (8), em um último apelo por ajuda apresentado na ONU em Genebra, onde acusou uma tentativa de “assassinato”. Em comunicado nesta manhã, os advogados dos pais de Vincent denunciam um “crime de Estado”.
Morte digna
A mulher de Lambert afirma que lutava para ver Vincent “livre” e pelo “respeito de suas convicções”. Rachel disse que o marido havia deixado claro antes do acidente que não desejava ser mantido com vida artificialmente, mas não registrou a intenção por escrito.
Diversas avaliações médicas ordenadas pelos tribunais concluíram que Lambert não tinha nenhuma possibilidade de recuperação e que o estado vegetativo era irreversível.
O Comitê de Direitos das Pessoas com Deficiências da ONU havia solicitado à França que o paciente continuasse vivo enquanto organizava sua própria investigação sobre o caso, um pedido que o governo francês considerou não ser vinculante.
Ao contrário de outros países europeus como Holanda, Bélgica ou Suíça, a eutanásia ativa ou o suicídio ativo são proibidos na França. No entanto, a lei Léonetti, aprovada em 2005, prevê a possibilidade de interromper um tratamento em casos de “obstinação terapêutica irracional”.
(Com informações da AFP)