“Decidi entrar no porto de Lampedusa, sei o que estou arriscando, mas os 42 que náufragos estão exaustos e eu os levo para um local seguro”, disse no Twitter a jovem capitã alemã do navio, Carola Rackete, 31.
Com este ato, Carola desafia o ministro do Interior e número dois do governo italiano, Matteo Salvini, de extrema direita.
“Em 14 dias, nenhuma solução política ou legal foi possível, a Europa nos abandonou”, acrescentou Sea-Watch, uma ONG alemã cujo navio homônimo navega com a bandeira holandesa.
Depois de navegar por dez dias ao longo da costa italiana, o navio cruzou a fronteira marítima ao meio-dia e parou no meio da tarde, em frente ao porto da ilha. Policiais da guarda costeira e da alfândega estavam bem próximos.
“Usaremos todos os meios democraticamente permitidos para bloquear esse insulto à lei”, respondeu Matteo Salvini em um vídeo ao vivo no Facebook.
Salvini denunciou o “jogo político sórdido” da ONG, mas também a indiferença exibida pelos Países Baixos e pela Alemanha. Os governos de Berlim e Haia “responderão”, segundo ele.
A jovem capitã de 31 anos e os responsáveis pelo Sea-Watch poderão agora enfrentrar um processo por auxílio à imigração ilegal, além de correrem o risco de terem o navio apreendido e pagarem uma multa de €50.000, de acordo com o recente “decreto de segurança bis” de Salvini.
De acordo com estatísticas do Ministério do Interior, mais de 400 migrantes desembarcaram na Itália nas últimas duas semanas, muitos dos quais chegaram em pequenas embarcações em Lampedusa.
“Sem escolha”
Na terça-feira, a Corte Européia de Direitos Humanos, tomada pela ONG alemã, recusou-se a intervir com urgência, pedindo à Itália que “continuasse a prestar toda a assistência necessária” às pessoas vulneráveis a bordo.
Dos 53 migrantes resgatados em 12 de junho pelo Sea-Watch da Líbia, a Itália já aceitou o desembarque de 11 pessoas vulneráveis (crianças, mulheres, doentes).
No continente, dezenas de cidades alemãs disseram que estavam prontos para acolher os migrantes, e o bispo de Turim (norte da Itália), Cesare Noviglia, anunciou segunda-feira que sua diocese poderia assumir o comando.
O sacerdote de Lampedusa, Carmelo La Magra, acampou durante vários dias nos degraus de sua igreja para exigir o desembarque de migrantes. Nas eleições europeias de maio, no entanto, a Liga, partido de Salvini, conquistou 45% dos votos na ilha.
Desde a chegada do governo populista ao poder na Itália, em junho de 2018, houve sucessivas crises ao redor migrantes presos em navios de salvamento até que um acordo de distribuição entre vários países europeus os permitisse desembarcar.
Em janeiro, 32 migrantes resgatados pelo Sea-Watch permaneceram presos por um recorde de 18 dias a bordo antes de poderem descer em Malta.
“É grave que a capitã não tenha outra escolha que não honrar o seu senso de responsabilidade ao preço de consequências pessoais”, reagiu Carlotta Sami, porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR ) na Itália.
“O ACNUR pede revisão do decreto segurança bis e a organização de um sistema de resgate e desembarque. A criminalização das ONGs deve acabar”, acrescentou ela, enquanto as organizações internacionais têm repetido estes dias que não foi possível enviar os migrantes de volta ao caos líbio.
(Com informações da AFP)