A física teórica é uma das áreas mais fascinantes e desafiadoras da ciência, pois busca entender os mistérios do universo em seus níveis mais fundamentais.
No entanto, essa busca também enfrenta alguns obstáculos aparentemente insuperáveis, como a incompatibilidade entre as duas teorias mais bem-sucedidas da física moderna: a relatividade geral e a mecânica quântica.
A relatividade geral, formulada por Albert Einstein no início do século XX, descreve a gravidade como uma propriedade do espaço-tempo, a estrutura quadridimensional que abrange todas as dimensões espaciais e temporais. A mecânica quântica, por outro lado, descreve o comportamento das partículas subatômicas, como elétrons e fótons, que obedecem a leis probabilísticas e não-determinísticas. Ambas as teorias foram testadas experimentalmente e confirmadas com grande precisão, mas elas parecem entrar em conflito quando se trata de fenômenos extremos, como os buracos negros.
Os buracos negros são objetos celestes tão densos que nada pode escapar de sua atração gravitacional, nem mesmo a luz. Eles são formados pelo colapso de estrelas massivas ou pela fusão de outras estrelas menores. Eles têm uma fronteira chamada horizonte de eventos, que marca o ponto de não retorno para qualquer coisa que se aproxime deles. Dentro do horizonte de eventos, o espaço-tempo é tão distorcido que o tempo parece parar e o espaço parece infinito.
Um dos maiores enigmas dos buracos negros é o chamado paradoxo de Hawking, proposto pelo famoso físico Stephen Hawking na década de 1970. Hawking mostrou que os buracos negros não são completamente negros, mas emitem uma radiação térmica devido aos efeitos quânticos na borda do horizonte de eventos. Essa radiação faz com que os buracos negros evaporem lentamente ao longo do tempo, até desaparecerem completamente. No entanto, isso levanta uma questão fundamental: o que acontece com a informação que caiu dentro dos buracos negros? A informação é um conceito físico que mede o grau de ordem ou complexidade de um sistema. A mecânica quântica afirma que a informação é sempre conservada, ou seja, nunca pode ser criada nem destruída. Mas se os buracos negros evaporam e liberam apenas radiação aleatória, isso significa que a informação original é perdida para sempre. Isso viola um dos princípios básicos da física quântica e cria uma contradição lógica.
Para resolver esse paradoxo, um grupo de jovens físicos propôs uma ideia radical: o interior e o exterior dos buracos negros podem ser descritos por códigos de correção de erros quânticos, que espalham a informação entre várias partículas. Esses códigos são usados na computação quântica para proteger os dados contra ruídos e interferências. Eles funcionam codificando um conjunto de qubits (os bits quânticos) em um conjunto maior de qubits, de modo que a informação possa ser recuperada mesmo se alguns qubits forem perdidos ou corrompidos. Os físicos sugerem que os buracos negros podem usar um mecanismo semelhante para preservar a informação que entra neles, distribuindo-a entre as partículas que saem como radiação de Hawking. Dessa forma, a informação não é perdida nem clonada (outra violação da mecânica quântica), mas apenas embaralhada.
Os físicos também sugerem que as leis da física semiclássica falham para experimentos extremamente complexos, que exigem um número exponencial de passos e tempos incompreensíveis. Esses experimentos envolvem manipular um grande número de partículas dentro e fora dos buracos negros, algo que está além das capacidades tecnológicas atuais. Eles argumentam que esses experimentos são impossíveis na prática e irrelevantes na natureza, pois exigiriam recursos ilimitados e violariam os limites físicos da computação. Portanto, eles propõem que a física semiclássica deve ser substituída por uma teoria mais fundamental da gravidade quântica, que leva em conta os efeitos quânticos do espaço-tempo e da informação.
Os físicos esperam que sua solução possa levar a uma teoria mais unificada da física, que possa explicar todos os fenômenos do universo em um único quadro lógico e matemático. No entanto, eles reconhecem que sua ideia tem limitações e desafios, como a falta de evidências experimentais e a dificuldade de testar suas previsões. Eles também admitem que existem outras abordagens possíveis para o paradoxo de Hawking, como a teoria das cordas ou a gravidade emergente. Eles afirmam que sua proposta é apenas uma das muitas tentativas de resolver um dos maiores mistérios da física teórica.
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