Ter uma correspondência genética com um indivíduo antigo não implica necessariamente uma relação genealógica mais próxima.
Em um avanço científico que está transformando nossa compreensão da herança genética, pesquisadores descobriram que o DNA de pessoas contemporâneas contém segmentos que remontam à Europa da Idade Média. A análise de sequências genéticas de 33 indivíduos medievais revelou surpreendentes semelhanças com o DNA de pessoas atuais.
Este estudo, que desafia as fronteiras entre ficção e realidade, tem gerado grande fascínio entre os entusiastas da genealogia. A popularidade dos testes de DNA caseiros incitou um entusiasmo em pessoas ansiosas para rastrear seus genes até ancestrais históricos. No entanto, geneticistas alertam que correspondências genéticas não garantem uma linhagem direta ou uma herança cultural exclusiva.
Entendendo a sua ancestralidade
Entender sua ancestralidade começa com o número de ancestrais que você tem em cada geração anterior. Uma geração atrás, você tem dois ancestrais; duas gerações atrás, você tem quatro. Esse número dobra a cada geração: oito, dezesseis, e assim por diante. Na 30ª geração, por volta do século 12, você tem mais de um bilhão de ancestrais.
Neste ponto, seus ancestrais abrangem a maioria dos indivíduos da sua população que estavam vivos naquela época, exceto por uma pequena fração que não deixou descendentes a longo prazo. Se você é de descendência europeia, isso inclui não apenas figuras proeminentes como Carlos Magno ou Eduardo I, mas também indivíduos de todas as classes sociais medievais. Sua árvore genealógica se conecta a cada um desses ancestrais através de múltiplas linhas.
Pesquisas matemáticas revelam um fato surpreendente: dentro de qualquer população dada, o número de linhas na sua árvore genealógica que se conectam a qualquer indivíduo medieval específico é aproximadamente o mesmo para você como é para qualquer outra pessoa da mesma população. Essencialmente, todas as pessoas vivas estão igualmente relacionadas, genealogicamente, a todos os indivíduos medievais daquela população.
A próxima consideração é o número de ancestrais dos quais você realmente herda DNA. Novamente, o número é surpreendentemente pequeno.
Apesar de ter milhões ou mais de ancestrais medievais, você só herda DNA de uma fração minúscula deles. Infelizmente, isso significa que você provavelmente não herdou DNA de Carlos Magno ou Eduardo I. Por exemplo, você tem apenas cerca de 2.000 ancestrais genéticos do século 12, o que significa que sua sequência de DNA é um mosaico de aproximadamente 2.000 “fragmentos”, cada um rastreando até uma única pessoa daquela época.
Imagine que todos os judeus Ashkenazi de hoje são descendentes de um grande grupo de judeus alemães que viveram na Idade Média. É como se todos tivessem um grande álbum de família antigo. Algumas pessoas podem ter herdado uma foto específica desse álbum, enquanto outras não. É meio que por acaso.
Agora, se olharmos para parentes mais recentes, como bisavós ou tataravós, é mais fácil ver uma conexão familiar única. Se você e outra pessoa têm uma foto do mesmo bisavô, isso mostra uma ligação familiar mais clara.
Um estudo da empresa 23andMe, que analisa DNA, mostrou isso. Eles compararam o DNA de pessoas que viveram há 300 anos com o de seus clientes atuais e encontraram mais de 41.000 parentes vivos. Isso inclui alguns que são quase como se fossem descendentes diretos.
Mas quando tentamos fazer essa conexão com pessoas que viveram há muito tempo, como na Idade Média, fica mais difícil.
A pesquisa em DNA antigo vai além do mero interesse pessoal, servindo como uma chave para desvendar os mistérios das migrações e evolução humanas. Com um acervo de mais de 10.000 sequências de DNA de todo o mundo, os pesquisadores estão decifrando o enigma das nossas origens.
As consequências dessas descobertas são significativas. Elas reforçam a ideia de que partilhamos uma história comum, tecida ao longo dos séculos. Além disso, ressaltam a natureza imprevisível da herança genética: mesmo com muitos antepassados na Idade Média, herdamos DNA apenas de alguns.
Portanto, a identificação de uma correspondência genética com um ancestral histórico é mais um lance de dados genéticos do que um traço de linhagem predeterminado.
Fontes: Link 1, Link 2, Link 3.