Se o espaço é tão grande e há tantos planetas que podem abrigar vida, por que não encontramos nenhum sinal de civilizações alienígenas?
Essa é a essência do chamado paradoxo de Fermi, formulado pelo físico italiano Enrico Fermi em 1950. Ele argumentou que, se existem muitas civilizações extraterrestres na galáxia, algumas delas deveriam ter desenvolvido tecnologia suficiente para viajar e colonizar outros sistemas estelares. Mas então, onde estão elas?
Uma possível solução para esse paradoxo foi proposta por um grupo de pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos. Eles sugerem que as civilizações alienígenas avançadas podem atingir um limite de crescimento e exploração espacial, chamado de “horizonte de esgotamento”, e optar por priorizar a homeostase e o bem-estar em vez de expandir-se sem controle.
O estudo, publicado na revista científica Astrophysical Journal, usa uma abordagem baseada na relação entre informação e energia. Segundo os autores, a vida e a civilização podem ser vistas como um ciclo de retroalimentação entre fluxos de informação e energia. A informação é o que permite aos organismos e às sociedades se adaptarem ao seu ambiente e aos desafios que enfrentam. A energia é o que permite aos organismos e às sociedades realizarem as ações necessárias para sobreviver e prosperar.
No entanto, esse ciclo não é infinito. Há um limite para a quantidade de informação que pode ser processada e armazenada por um sistema, e há um limite para a quantidade de energia que pode ser extraída e utilizada por um sistema. Esses limites dependem das leis da física, da natureza do ambiente e da complexidade do sistema.
Quando um sistema se aproxima desses limites, ele enfrenta uma crise ou um colapso. Para evitar isso, ele precisa inovar, ou seja, encontrar novas formas de obter e usar informação e energia. Isso pode envolver mudanças tecnológicas, sociais, culturais ou políticas. A inovação é essencial para manter o ciclo de retroalimentação entre informação e energia.
Os pesquisadores aplicaram esse modelo para analisar o comportamento das civilizações alienígenas. Eles assumiram que as civilizações alienígenas seguem um padrão semelhante ao da humanidade: começam como sociedades agrárias, passam por revoluções industriais e tecnológicas, e eventualmente alcançam a capacidade de explorar o espaço.
Eles também assumiram que as civilizações alienígenas têm dois objetivos principais: maximizar a sua taxa de crescimento (ou seja, o quanto elas se expandem no espaço) e maximizar a sua taxa de homeostase (ou seja, o quanto elas mantêm o equilíbrio interno e o bem-estar).
O estudo mostrou que as civilizações alienígenas podem seguir três caminhos possíveis:
- Caminho 1: Elas continuam a expandir-se pelo espaço sem limites, consumindo cada vez mais energia e informação. Esse caminho leva ao esgotamento dos recursos e à instabilidade do sistema.
- Caminho 2: Elas atingem um ponto de saturação, onde não conseguem mais crescer nem inovar. Esse caminho leva ao colapso do sistema ou à sua extinção.
- Caminho 3: Elas alcançam um ponto de equilíbrio, onde elas reduzem a sua expansão espacial e priorizam a homeostase e o bem-estar. Esse caminho leva à estabilidade do sistema e à sua sobrevivência.
Os pesquisadores argumentam que o caminho 3 é o mais provável para as civilizações alienígenas avançadas. Eles chamam esse ponto de equilíbrio de “horizonte de esgotamento”, pois representa o limite máximo de crescimento e exploração espacial que uma civilização pode atingir sem comprometer a sua sustentabilidade.
O estudo também sugere que podemos detectar sinais de civilizações alienígenas próximas do horizonte de esgotamento ou logo após o seu “despertar homeostático”, quando elas mudam o seu rumo e reduzem a sua expansão cósmica. Esses sinais podem ser emissões de rádio, laser ou outras formas de comunicação ou observação.
Os pesquisadores afirmam que o seu modelo pode ter implicações para a humanidade, que está enfrentando os seus próprios desafios de crescimento e sustentabilidade. Eles alertam que a humanidade pode estar se aproximando do seu próprio horizonte de esgotamento, e que é preciso buscar um equilíbrio entre a exploração espacial e a preservação da Terra.
Eles também esperam que o seu estudo estimule novas pesquisas e debates sobre o paradoxo de Fermi e a busca por vida inteligente fora da Terra. Eles concluem que “a questão ‘onde estão eles?’ pode ser menos relevante do que ‘como eles estão?’”.