Um novo estudo publicado na revista Nature revelou que a estratosfera, uma das camadas mais altas da atmosfera, está contaminada por partículas metálicas provenientes de foguetes e satélites.
Essas partículas podem afetar a química da estratosfera e prejudicar a camada de ozônio, que protege a vida na Terra da radiação ultravioleta.
Os pesquisadores analisaram amostras de ar coletadas por balões meteorológicos entre 2016 e 2022. Eles encontraram concentrações anormalmente altas de alumínio, ferro, titânio e outros metais na estratosfera, que se estende de cerca de 10 a 50 quilômetros acima da superfície da Terra. Eles concluíram que esses metais vieram de foguetes, satélites e outros veículos espaciais que se desintegraram ao reentrarem na atmosfera.
“Esses contaminantes não são normalmente encontrados em tais concentrações incomuns na estratosfera”, disse o professor Martin Dameris, um dos autores do estudo. “Eles são um sinal claro da crescente atividade espacial humana.”
De fato, o número de lançamentos espaciais aumentou drasticamente nos últimos anos, impulsionado pela demanda por serviços de comunicação, navegação e observação da Terra. Segundo o Escritório das Nações Unidas para Assuntos do Espaço Exterior, o número de lançamentos subiu de 221 em 2016 para 2.478 em 2022. Toneladas de foguetes da SpaceX, Arianespace e Rússia se lançaram ao espaço.
“A maior parte desse material, eventualmente, volta para baixo”, observou o professor Dameris. “E alguns desses objetos são muito grandes, como os estágios superiores dos foguetes ou os satélites inteiros.”
O problema é que essas partículas metálicas não ficam apenas na baixa atmosfera, onde podem ser lavadas pela chuva. Elas também sobem para a estratosfera, onde podem permanecer por anos ou até décadas. Lá, elas se ligam a partículas de ácido sulfúrico que desempenham um papel importante no bem-estar da camada de ozônio.
O ácido sulfúrico é produzido naturalmente na estratosfera pela reação do vapor d’água com o dióxido de enxofre proveniente de erupções vulcânicas. Essas partículas servem como superfícies para reações químicas que destroem o ozônio, mas também refletem parte da luz solar de volta ao espaço, resfriando a estratosfera e reduzindo a taxa de decomposição do ozônio.
No entanto, quando as partículas metálicas se ligam ao ácido sulfúrico, elas alteram o equilíbrio entre esses dois efeitos. As partículas metálicas absorvem mais luz solar do que as partículas puras de ácido sulfúrico, aquecendo a estratosfera e acelerando a perda de ozônio. Além disso, as partículas metálicas podem catalisar outras reações químicas que também destroem o ozônio.
Os pesquisadores estimam que cerca de 10% das partículas de ácido sulfúrico na estratosfera estão agora afetadas pelos metais espaciais. Eles esperam que esse número suba para até 50% nas próximas décadas, à medida que mais lançamentos espaciais ocorram.
“Que efeito isso poderia ter na atmosfera, na camada de ozônio e na vida na Terra ainda está por ser entendido”, disse o comunicado do estudo. “Mas é provável que seja significativo.”
Os pesquisadores pedem uma maior conscientização sobre o impacto ambiental da atividade espacial humana e uma melhor regulamentação dos lançamentos espaciais. Eles também sugerem que os projetos espaciais futuros considerem formas de reduzir as emissões de metais na atmosfera, como usar materiais biodegradáveis ou recicláveis.
“O espaço é um recurso comum que deve ser usado de forma sustentável e responsável”, disse o professor Dameris. “Não podemos simplesmente ignorar as consequências de nossas ações no espaço para o nosso planeta.”
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