Você já reparou na quantidade de canais religiosos que existem na TV aberta brasileira?
Sejam católicos ou evangélicos, eles ocupam uma parcela significativa da programação televisiva nacional. Mas por que isso acontece? Quais são as razões históricas, sociais, legais e econômicas que explicam esse fenômeno? Neste artigo, vamos tentar responder a essas perguntas e apresentar algumas das principais emissoras religiosas do Brasil.
A história da fé na TV
A primeira razão para a presença de canais religiosos na TV aberta brasileira é histórica. Desde o início dos meios de comunicação no país, a fé sempre esteve presente. Programas religiosos, católicos ou evangélicos em sua maioria, são veiculados no rádio e na TV do Brasil desde o início da história desses meios .
A primeira emissora de rádio do Brasil, a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, fundada em 1923, tinha entre seus fundadores o padre jesuíta Edgar Roquette-Pinto, que usava o veículo para divulgar a cultura e a educação. A primeira transmissão de TV no Brasil, em 1950, foi feita pela TV Tupi, que tinha entre seus sócios o empresário e político católico Francisco de Assis Chateaubriand, que também apoiava programas religiosos em sua rede.
Ao longo das décadas, as emissoras de rádio e TV foram se multiplicando e se diversificando, mas os programas religiosos continuaram tendo espaço. Alguns exemplos são o programa “A Voz da Profecia”, da Igreja Adventista do Sétimo Dia, que começou no rádio em 1943 e passou para a TV em 1967; o programa “Ave-Maria”, da Igreja Católica, que começou no rádio em 1936 e passou para a TV em 1970; e o programa “Show da Fé”, da Igreja Internacional da Graça de Deus, que começou no rádio em 1980 e passou para a TV em 1999.
A demanda por conteúdo religioso
A segunda razão para a presença de canais religiosos na TV aberta brasileira é social. A demanda por conteúdo religioso é alta, pois o Brasil é um país com uma população majoritariamente cristã. Segundo o censo de 2010, 86,8% dos brasileiros se declararam cristãos, sendo 64,6% católicos e 22,2% evangélicos.
Esses números refletem a importância da religião na vida dos brasileiros, que buscam na fé orientação, conforto, esperança e sentido. Os programas religiosos oferecem aos fiéis uma forma de se conectar com sua crença, de receber ensinamentos, de participar de cultos e missas, de expressar sua devoção e de contribuir com sua comunidade.
Além disso, os programas religiosos também atendem a uma demanda por informação, educação, cultura e entretenimento com uma perspectiva religiosa. Eles abordam temas como saúde, família, trabalho, política, sociedade e atualidades sob a ótica da fé. Eles também oferecem música, humor, arte e lazer com uma linguagem e uma estética religiosa.
A legislação brasileira
A terceira razão para a presença de canais religiosos na TV aberta brasileira é legal. A legislação brasileira permite que as emissoras de TV aberta vendam ou aluguem parte da sua grade para terceiros, incluindo organizações religiosas. Essa prática é uma forma de gerar receita para as emissoras e de garantir espaço para a diversidade de expressões religiosas no país.
Segundo a Constituição Federal de 1988, o Brasil é um Estado laico, ou seja, que não tem uma religião oficial e que respeita a liberdade de crença e de culto. Além disso, segundo a Lei nº 4.117, de 1962, que regula os serviços de radiodifusão no Brasil, as emissoras de TV aberta devem destinar parte da sua programação para a educação, a cultura e a informação, respeitando os princípios da democracia, da pluralidade e da regionalização.
Dessa forma, as emissoras de TV aberta têm autonomia para definir sua linha editorial e sua grade de programação, desde que observem os limites legais e éticos. Elas podem, portanto, vender ou alugar parte do seu tempo para organizações religiosas que queiram veicular seus programas, desde que não violem os direitos humanos, a ordem pública e a moral.
O poder das emissoras religiosas
A quarta razão para a presença de canais religiosos na TV aberta brasileira é econômica. Algumas emissoras religiosas se tornaram grandes potências nacionais, com alcance e audiência expressivos. Elas também realizam um importante papel social, oferecendo informação, educação, cultura e entretenimento com uma perspectiva religiosa .
As emissoras religiosas são financiadas principalmente por duas fontes: os fiéis e o governo. Os fiéis contribuem com dízimos, ofertas, doações e outras formas de apoio financeiro às organizações religiosas que mantêm as emissoras. O governo, por sua vez, destina parte das verbas publicitárias federais para as emissoras religiosas, de acordo com critérios como audiência, alcance e diversidade. No entanto, essas verbas têm diminuído nos últimos anos, em função de decisões do Tribunal de Contas da União (TCU) que exigem maior transparência e equilíbrio na distribuição dos recursos . Além disso, algumas emissoras religiosas também obtêm receitas com a venda ou aluguel de parte da sua grade para terceiros, como outras organizações religiosas, empresas ou partidos políticos.
Com esses recursos, as emissoras religiosas investem em infraestrutura, tecnologia, profissionais e conteúdo de qualidade. Elas também ampliam sua rede de afiliadas e retransmissoras pelo país, aumentando seu alcance e sua penetração. Elas também disputam a audiência com as demais emissoras comerciais ou públicas, conquistando a preferência de milhões de telespectadores.
As principais emissoras religiosas do Brasil
Segundo a categoria da Wikipédia, existem mais de 40 canais de televisão religiosos no Brasil. Eles representam diversas denominações cristãs, como católicos, evangélicos, espíritas e adventistas. Eles também têm diferentes perfis editoriais, formatos de programação e públicos-alvo. Entre eles, podemos destacar alguns dos mais importantes em termos de audiência, cobertura e influência. São eles:
- TV Aparecida: é uma emissora católica fundada em 2005 pela Rede Aparecida de Comunicação, vinculada ao Santuário Nacional de Aparecida. É a segunda maior emissora católica do país, atrás apenas da TV Canção Nova. Transmite programas religiosos, educativos, culturais e jornalísticos.
- Rede Boas Novas: é uma emissora evangélica fundada em 1993 pela Igreja Assembleia de Deus no Amazonas. É a maior emissora evangélica do país em termos de alcance, cobrindo todos os estados brasileiros e mais de 200 países. Transmite programas religiosos, educativos, informativos e de entretenimento.
- TV Canção Nova: é uma emissora católica fundada em 1989 pela Comunidade Canção Nova, uma associação de fiéis de direito pontifício. É a maior emissora católica do país em termos de audiência, tendo cerca de 15 milhões de telespectadores diários. Transmite programas religiosos, formativos, informativos e musicais.
- Rede Gospel: é uma emissora evangélica fundada em 1996 pela Igreja Renascer em Cristo. É a segunda maior emissora evangélica do país em termos de audiência, tendo cerca de 10 milhões de telespectadores diários. Transmite programas religiosos, informativos, musicais e de variedades.
- Rede Vida: é uma emissora católica fundada em 1995 pela Fundação Nossa Senhora da Aparecida. É a terceira maior emissora católica do país em termos de audiência, tendo cerca de 8 milhões de telespectadores diários. Transmite programas religiosos, educativos, culturais e esportivos.
- RIT: é uma emissora evangélica fundada em 1999 pelo missionário R. R. Soares, líder da Igreja Internacional da Graça de Deus. É a terceira maior emissora evangélica do país em termos de audiência, tendo cerca de 6 milhões de telespectadores diários. Transmite programas religiosos, informativos, musicais e infantis.
- TV Universal: é uma emissora evangélica fundada em 2012 pela Igreja Universal do Reino de Deus. É a quarta maior emissora evangélica do país em termos de audiência, tendo cerca de 4 milhões de telespectadores diários. Transmite programas religiosos, informativos e sociais.
Essas são algumas das principais emissoras religiosas do Brasil, mas existem muitas outras que também contribuem para a diversidade e a liberdade religiosa no país. Como vimos, há várias razões para a presença de canais religiosos na TV aberta brasileira, que envolvem aspectos históricos, sociais, legais e econômicos. Eles representam uma parcela significativa da população brasileira, que busca na fé orientação, conforto, esperança e sentido. Eles também oferecem informação, educação, cultura e entretenimento com uma perspectiva religiosa. Eles são parte da identidade e da cultura brasileira, que se caracteriza pela pluralidade e pela tolerância. Eles são um reflexo da fé na TV.