É domingo, dia 15 de julho, ligo a TV… “Carlinhos Aguiar, sabe o que é orgia? – pergunta o dono do baú, que também responde: “Todo mundo bêbado: Helen [Ganzarolli] bêbada, Mara [Maravilha] bêbada, Patrícia bêbada”, falou Silvio, rindo. Até que o pingo de juízo do “Programa Silvio Santos”, intervém: “Não me põe nesse rolo, não”, grita a filha, Patrícia.
Um verdadeiro pão e circo a canal aberto, que é duplamente prejudicial por desrespeitar as mulheres e por normalizar essa ação – não poupando sequer uma das suas sete filhas, mesmo que isso lhe valha o julgamento por ter sugerido a prática de incesto.
É nojento! E por sermos acostumados a endeusar famosos, quando se trata de Silvio Santos – que de camelô passou a ser o maior comunicador do Brasil como excelente manobrista da massa – fica fácil entender a redoma que o envolve. Ressalto: entender, não concordar.
Afinal, até que ponto a sua plateia, composta unicamente por mulheres, precisa se sujeitar a ser avaliada fisicamente e diminuída intelectualmente para ganhar um bendito aviãozinho? Na mesma misoginia e machismo, são vitimadas também convidadas da atração dominical e funcionárias do SBT, que ao contrário do público comum, conseguem gerar vez ou outra um burburinho na internet, que quase sempre resulta no conformismo de “Ah, mas é o Silvio, né? (risos)”.
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Silvio pode até estar imune ao julgamento público, mas à condenação jurídica não. O SBT foi condenado recentemente pelo Ministério Público do Trabalho a pagar R$ 10 milhões por dois casos que explicitam como é a relação da emissora com o gênero feminino. O primeiro caso ocorreu em 2017, quando Silvio tentou empurrar o apresentador Dudu Camargo para a Maísa Silva, gerando total desconforto na jovem, que saiu chorando do palco. E o segundo ocorreu em abril em 2016, quando o apresentador Ratinho agrediu fisicamente a assistente de palco Milene Pavorô, fechada dentro de uma caixa de papelão.
Bem ou mal, a Rede Globo tem iniciado mudanças para inibir essas práticas e reverter a lógica da indústria cultural que visa sobretudo o lucro em detrimento de valores éticos e morais. A emissora mudou a sua grade de atrações, principalmente no que se refere aos programas humorísticos. Agora, com graça ou não, eles privilegiam piadas mais críticas, com forte apelo à ironia.
Estaria a família Abravanel disposta a rever também a sua estratégica de dominação de massas – mesmo que seja pensando unicamente na saúde e sobrevida dos negócios? Ou a cultura organizacional do SBT será sempre oferecer um conteúdo esvaziado de valores, porém cheio de sensacionalismo, na tentativa de manter o público alienado, que no final das contas continua sendo o grande trunfo da maioria dos empreendimentos?