As autoridades turcas prenderam na sexta-feira (16) vários acadêmicos e figuras da sociedade civil em Istambul, provocando uma onda de críticas na Europa. Sinal de que os expurgos políticos não enfraqueceram no país, a Justiça turca emitiu mandados de prisão contra 188 pessoas, incluindo 100 soldados, suspeitos de estarem ligados ao pregador Gülen, mais de dois anos após o golpe fracassado.
As pessoas detidas são todas membros ou relacionadas com a ONG Culture Anatolia, que trabalha para superar as diferenças na sociedade turca através da cultura e das artes. Seu presidente, Osman Kavala foi detido sem julgamento por mais de um ano.
De acordo com a agência de notícias DHA, o decano da Faculdade de Direito da Universidade Bilgi, Turgut Tarhanli, e um professor de matemática da prestigiada Universidade de Bósforo, Betül Tanbay, se encontram entre os presos na madrugada.
A agência estatal Anadolu disse que 20 mandados de prisão no total foram emitidos e que 13 dos alvos já foram detidos. Entre eles estão o produtor e jornalista Cigdem Mater e uma figura na cena cultural e artística de Istambul, Asena Günal.
Eles são suspeitos, segundo a Anadolu, de “criar caos e desordem” e “tentar derrubar o governo ao convidar facilitadores profissionais e ativistas” durante os protestos antigovernamentais de 2013, conhecidos como “Movimento Gezi”. Kavala, um empresário e filantropo que dirige a Culture Anatolia, foi preso por mais de um ano em uma investigação amplamente criticada por supostos laços com o golpe fracassado.
Kavala foi colocado em prisão preventiva em novembro de 2017, e ainda não foi formalmente acusado. De acordo com seus advogados, as autoridades suspeitam que a detenção seja ligada à tentativa de golpe de 15 de julho de 2016. Seu encarceramento é regularmente denunciado por funcionários europeus e defensores dos direitos humanos.
“Alarmantes” e “absurdas”
De acordo com a agência oficial do governo turco, o vice-presidente da Culture Anatolia, Yigit Ekmekçi, e um membro do seu conselho de administração, Hakan Ali Altintay, estão entre os visados pelos novos mandados de prisão.
A União Europeia afirmou que a nova onda de prisões é “alarmante”, dizendo em comunicado que tais medidas “são contrárias ao compromisso declarado do governo turco sobre direitos humanos e liberdades fundamentais”. Chamando de “absurdas” as acusações contra os detidos, a Anistia Internacional estima que as prisões “mostram que as autoridades estão determinadas a continuar sua campanha brutal contra a sociedade civil.”
Thorbjorn Jagland, secretário-geral do Conselho da Europa da qual a Turquia é membro, se disse em uma declaração “muito preocupado” por recentes detenções e disse que iria discutir “este desenvolvimento alarmante com as autoridades turcas”.
O relator sobre a Turquia no Parlamento Europeu, Kati Piri, denunciou “um ataque brutal à sociedade civil turca” e exortou a UE a “fortemente condenar” as prisões.
Golpe fracassado e expurgo
Após a tentativa de golpe de 15 de julho de 2016 de derrubar o presidente turco Recep Tayyip Erdogan, as autoridades lançaram uma repressão implacável: mais de 50 mil pessoas foram presas e mais de 100 mil demitidos ou suspensos.
Ancara acusa o pregador Fethullah Gulen ter produzido o golpe. Mas este último nega qualquer envolvimento.