Astrônomos publicaram na revista Astrophysical Journal Letters suas pesquisas em que estudaram o fenômeno da forma ondeada dos rebordos da nossa galáxia.
“Se essa galáxia se comporta da forma como nós prognosticamos, é muito fácil calcular a órbita dela e perceber a distância a que ela se aproximou do disco da Via Láctea”, declarou Sukanya Chakrabarti, pesquisadora do Instituto de Tecnologia de Rochester.
Isso permite calcular não só a massa da matéria escura, mas também como ela está distribuída pelo objeto, revela ela.
“Isso transforma Antlia 2 em um laboratório único para pesquisar as caraterísticas dessa substância misteriosa”, disse Sukanya Chakrabarti.
Durante muito tempo os cientistas consideraram que todo o Universo se compunha de três tipos de galáxias: as antigas aglomerações elípticas de estrelas, que se parecem com balões gigantes, as primas delas “planas”, com forma de panqueca espiral, e os objetos de forma irregular. A nossa galáxia pertence ao segundo tipo.
Quatro anos atrás, astrônomos começaram a duvidar disso ao estudar o assim chamado Anel de Monoceros, uma densa faixa de estrelas perto dos rebordos da Via Láctea. A estrutura dela aponta que a galáxia possa ser parecida com um acordeon ou um leque aberto entrançado em espiral.
Recentemente, eles tiveram a oportunidade de verificar essa teoria graças ao descobrimento de várias centenas de estrelas variáveis, antes desconhecidas, localizadas no lado “oposto” da galáxia. Usando as imagens captadas pelo telescópio WISE, eles calcularam a distância e a localização exata de quase 1.500 estrelas semelhantes e usaram as imagens para compor um mapa 3D dos braços da Via Láctea.
Verificou-se que ela não se parece nem com a panqueca plana nem com a letra S, segundo indicam os mapas de distribuição de hidrogênio nos rebordos da nossa galáxia, mas tem uma estrutura muito complexa. Os rebordos estão entrançados em uma espiral invulgar, amassada e comprimida. Isso obrigou os pesquisadores a buscar novas explicações sobre como os rebordos dela adquiriram essa forma.
Chakrabarti e seus colegas responderam à questão pesquisando as caraterísticas das chamadas galáxias “escuras”, situadas nas proximidades da Via Láctea. Esse é o nome que os astrônomos deram aos satélites dela, que consistem quase completamente de matéria escura e que têm um número mínimo de estrelas. Elas colidem de vez em quando com seu “irmão grande”, perdem a maioria de sua massa e formam estruturas parecidas com o Anel de Monoceros.
A atenção deles foi atraída por uma das mais “invisíveis” e pequenas galáxias desse tipo, a Antlia 2, que foi descoberta pelo telescópio orbital GAIA no fim do ano passado na constelação de Antlia. A Antlia 2 está afastada de nós a 420 mil anos-luz e possui um tamanho pequeno, de 7 a 8 mil anos-luz.
O descobrimento desse objeto chamou a atenção de Chakrabarti e da equipe dela, que prognosticou a existência de uma galáxia semelhante nessa parte do espaço em 2009.
Os cientistas iniciaram observações da Antlia 2 com esperança de esclarecer como surgiu esse coágulo de matéria visível e escura e o que aconteceu com ela no passado.
Para isso, os cientistas calcularam a velocidade corrente do movimento da galáxia e outras caraterísticas segundo os dados de GAIA. Depois eles usaram esses dados para calcular os diferentes cenários do movimento dela no passado usando um modelo computadorizado da Via Láctea e das vizinhas mais próximas dela.
Essa simulação mostrou inesperadamente que foi a Antlia 2, e não a galáxia anã DEG da constelação de Sagitário, como os muitos teoréticos consideravam antes, a razão do aparecimento das “pregas” nos rebordos da Via Láctea.
Como referem Chakrabarti e seus colegas, será possível verificar essa teoria no futuro próximo, quando o grupo científico do telescópio GAIA publicar novos dados das observações. Eles permitirão aos cientistas calcular com maior precisão a direção do movimento de Antlia 2 e perceber se ela foi realmente um dos “escultores” da Via Láctea.