De acordo com a tese de dois russos, a francesa Jeanne Calment, que morreu em 4 de agosto de 1997 com 122 anos e 164 dias, na verdade teria falecido no início dos anos 30, perto dos 60 anos. Segundo dois gerontólogos russos, Valeri Novosselov e Yuri Deigin, sua filha, Yvonne, teria assumido sua identidade para escapar do imposto sobre a herança.
Segundo a tese dos dois especialistas, há várias diferenças morfológicas nas fotos de Jeanne. Um exemplo citado pelos cientistas é a imagem da carteira de identidade, emitida nos anos 30. A cor dos olhos, a altura e a testa não correspondem aos traços físicos de Jeanne Calment, que nasceu em Arles, no sul da França.
Os dois cientistas também citam uma entrevista, publicada no jornal Le Monde em dezembro de 1988. Na reportagem, Jeanne diz que ainda não era casada quando o pintor Van Gogh veio comprar telas na loja da família, no século 19. Só que a loja, em questão, situada no centro da cidade, pertencia a seu marido, Fernand, o que levou a dúvidas sobre se a declaração não foi um lapso de Yvonne. Analisando entrevistas, biografias e arquivos de Arles, os russos concluíram que Jeanne morreu aos 99 anos.
Novosselov e Deigin também dizem que, nas gravações feitas com Jeanne, ela confunde com frequência seu pai e seu marido. Mas esse tipo de lapso é comum em pessoas idosas. O gerontólogo francês Michel Allard, que validou a idade de Jeanne, disse em entrevista ao jornal francês Libération, publicada no 7 de janeiro, que a tese russa é “possível”, mesmo que tenha todos os ingredientes de uma teoria do complô. Uma dúvida que apenas um teste de DNA poderia sanar de vez, o que a família recusa.
Para Allard, a falha essencial da tese russa é a questão da sociabilidade. Como imaginar que sua filha, 23 anos mais jovem, pudesse ter assumido sua identidade em uma cidade pequena? Sem contar que a família, que tinha posses e era conhecida, não passava despercebida em Arles.
“A igreja, o cartório, o marido militar de Yvonne, o marido de Jeanne, que ainda era vivo quando Yvonne morreu, todos precisariam estar envolvidos na farsa”, declarou. “O processo para verificar uma centenária é complexo. Existe um protocolo que nós seguimos. Não basta ter uma certidão de nascimento. Essa verificação representou um ano de trabalho com uma equipe de colaboradores”, defendeu.
Figura famosa, Jeanne Calment lançou em 1996 um EP chamado “Maîtresse du Temps”, de funk, rap e techno.
Família se diz escandalizada
“Isso é uma aberração, não acredito”, disse um membro distante da família de Jeanne Calment. “Sempre ouvi dizer minha avó falar da tristeza de Jeanne de ter perdido sua única filha, Yvonne, e seu neto, que era médico”, declarou uma sobrinha-bisneta que preferiu não se identificar. “Nunca ouvimos falar disso na família”, disse outro parente. Fazer um teste DNA, diz, está fora de cogitação. “Deixem os mortos descansarem em paz”, declarou.