Recentemente, foi revelado que os serviços do Google nos dispositivos iPhone e Android têm guardado dados sobre a localização dos usuários a despeito dos ajustes de privacidade. A Sputnik consultou um especialista em cibersegurança para descobrir os possíveis riscos relacionados com tais atividades.
Ao ser entrevistado pela Sputnik Internacional, Kevin Curran, professor da cátedra de cibersegurança da Faculdade de Equipamentos Computorizados e Ambiente de Engenharia e Antropologia da Universidade de Ulster, no Reino Unido, confirmou os mais temíveis medos dos usuários de smartphones.
“Não é de estranhar que o Google o faça. Em 2007 foi detectado que os automóveis do Google monitoravam os radares de tempo localizados nas ruas. No ano passado, descobrimos registros sobre a venda pelas torres das redes móveis dos identificadores dos usuários que estavam usando seu celular no respectivo momento. Hoje em dia, foi descoberto que mesmo com os serviços de localização deslizados em um dispositivo, sua localização está sendo vigiada quando vai checar o tempo ou abrir o aplicativo Google Maps no seu celular”, conta ele.
De acordo com o especialista, a principal causa disso é a publicidade, que deu ao Google 32 bilhões de dólares (quase 125 bilhões de reais) no trimestre passado, sendo que 90% das receitas da empresa têm a ver com esse setor.
“Para o Google é muito importante monitorar sua localização, pois através disso eles apresentam ao publicitário dados demográficos, dados regionais, o que permite criar publicidade orientada para o público de uma certa área”, explica Curran.
Logicamente, isso ajuda a empresa a ganhar mais com a publicidade. Quanto mais informações ela tem sobre os usuários, mais anúncios ela vende e, consequentemente, mais lucros ganha.
Desse modo, para eles fica desvantajoso que a gente desligue os serviços de localização em seus dispositivos, argumenta o especialista.
“Eles lhe falariam que com a ajuda dos serviços de localização você passaria a receber publicidade orientada, serviços de maior qualidade, e isso é verdade em algum sentido”, reconhece.
Entretanto, isso não faz com que as atividades do Google sejam legítimas, adverte Curran.
“Mas na realidade o problema consiste em que se seu dispositivo tem capacidade de desligar os serviços de localização, mas depois você descobre que eles não se desligam, o Google deve assumir responsabilidade por isso. Eles devem responder por isso e serem mais abertos e transparentes para os usuários que querem desativar os serviços de localização em seus dispositivos, para ter certeza que seus celulares não estão sendo espionados”, opinou.
Ao que pode levar o abuso de tais práticas? E será que em algumas situações isso pode colocar as pessoas em risco? A conclusão do especialista parece pouco otimista.
“Provavelmente, algumas pessoas nunca visitaram o histórico de sua localização no Google. Este histórico lhe mostra aonde você foi. Se você o ativou, como faz a maioria das pessoas, então você pode ver todas as suas movimentações, pode ver aonde foi, até a rua certa, também as fotos tiradas no mesmo momento. Se você for para a secção ‘Minha atividade’ no Google, vai ver não apenas seu histórico de pesquisa, mas também aonde foi e aonde viajou, quantas vezes abriu o WhatsApp e outros aplicativos. Nesse lugar se guardam informações muito detalhadas”, contou.
Nesse contexto, vale ressaltar que a maioria esmagadora de smartphones, especialmente os da plataforma Android, usam os serviços e aplicativos do Google.
“Claro que se você usa um dispositivo iOS também não está seguro contra isso. O Google paga à Apple pela colocação dos seus serviços na plataforma iOS. E nestes dispositivos acontece a mesma coisa — sua localização está sendo vigiada, mesmo se você desligou o serviço de localização. Esta função do Google funciona de modo completamente diferente do que você imaginava, especialmente quando a desliga. Indiferentemente do dispositivo que está usando, se você usa os serviços do Google, está sendo espionado”, concluiu.