Nos últimos anos, geólogos, astrobiólogos e outros especialistas têm discutido ativamente a existência de reservas orgânicas ou microbianas nas camadas próximas à superfície do solo marciano, em que há água em estado líquido, onde os raios cósmicos dificilmente penetram e onde ela é relativamente quente.
Quando o rover Curiosity analisou a composição do ar e do solo em Marte em 2012 e 2013, cientistas não conseguiram encontrar nenhum vestígio de metano. No entanto, apenas alguns meses depois, os sensores do rover registraram várias explosões na concentração de metano.
“O dispositivo PFS [Espectrômetro Planetário de Fourier] realizou observações regulares pela cratera de Gale no mesmo dia em que o Curiosity registou um novo pico de metano. Agora a equipe do PFS está analisando os dados, e estamos muito interessados em saber se ele viu metano”, afirmou Dmitry Titov, diretor científico da missão à Sputnik.
Há um ano, após longos argumentos e repetidos testes relacionados à contaminação do laboratório químico do rover de Marte, o aparelho da NASA confirmou suas medições iniciais e fez uma descoberta impressionante ao descobrir um organismo “antigo” nas espessas rochas sedimentares no fundo de um lago seco.
As observações foram recentemente confirmadas por colegas europeus que trabalham com os dados recolhidos pela sonda Mars Express. Analisando as medições do dispositivo PFS, que correspondem ao mesmo período em que o rover Curiosity registrou uma das explosões de metano, astrônomos confirmaram que a liberação de gás realmente ocorreu, e estimaram sua massa aproximada.
Conclusão da missão russo-europeia
Ao mesmo tempo, colegas da missão russo-europeia ExoMars Trace Gas Orbiter chegaram a uma conclusão diferente: nem o dispositivo russo ACS, nem o europeu NOMAD conseguiram encontrar qualquer vestígio de metano na atmosfera de Marte em seis meses de observação. Estas diferenças tornaram o mistério do “metano marciano” ainda mais interessante.
Recentemente, astrônomos ganharam a oportunidade única de verificar todas estas afirmações. Nesse fim de semana, a equipe do rover Curiosity anunciou a descoberta de uma nova e poderosa emissão de metano, a uma escala ainda maior do que a acontecida em junho de 2013.
Em contraste com a penúltima explosão, que Mars Express não conseguiu checar, cientistas russos e europeus estavam prontos para o evento e conseguiram recolher todos os dados necessários para verificar as observações do rover americano.
Origem de emissões
Como salientado por cientistas europeus e americanos, mesmo que estas medições confirmem que as explosões foram reais, a sua descoberta não significa necessariamente que estas emissões tenham dado origem a micróbios marcianos.
Eles poderiam ser produzidos tanto por processos geoquímicos “inanimados” quanto pelo derretimento dos chamados clatratos, depósitos congelados de metano. Estes depósitos podem derreter ou mesmo explodir durante o verão marciano e liberar grandes quantidades de gás na atmosfera.
Essa natureza “periódica” de liberação de metano, segundo cientistas, explica por que o rover Curiosity passou tanto tempo sem conseguir registrar vestígios na atmosfera marciana, por que sua quantidade era anormalmente alta em julho e dezembro de 2013 e por que ExoMars Trace Gas Orbiter não encontrou nenhum vestígio de metano.
“Em abril, a equipe científica do dispositivo publicou um artigo no qual afirmava que, há alguns anos, o PFS registrou um pico com o rover. Veremos o que vai acontecer agora”, concluiu Dmitry Titov.