A obra, intitulada “Fear: Trump in the White House” (Medo: Donald Trump na Casa Branca, em tradução livre), escrita depois de 19 meses de investigação, ainda não chegou às livrarias. Mas trechos dela foram relevadas pelo jornal Washington Post, que obteve uma cópia do texto escrito por Bob Woodward. O jornalista, junto com Carl Bernstein, foi quem revelou o escândalo Watergate – caso que desencadeou a renúncia do presidente Richard Nixon, em 1974.
Em seu novo livro, Woodward descreve um chefe de Estado inculto, raivoso e paranoico, além de declarações e episódios polêmicos. Cenas impensáveis, como quando Trump sugeriu assassinar o presidente sírio Bashar Al-Assad. Segundo Woodward, depois do ataque químico de abril de 2017 em Khan Cheikhoun, no noroeste da Síria, atribuído ao regime do presidente sírio Bashar al-Assad, Trump supostamente ligou para o general Mattis e lhe disse que queria assassinar o chefe de Estado. “Vamos matá-lo. Vamos. Vamos matar um monte deles”, disse Trump ao chefe do Pentágono. Após desligar, Mattis teria recorrido a um assessor e teria dito a ele: “Não faremos nada a respeito, seremos muito mais comedidos”.
Woodward também descreve em seu livro a frustração vivida de forma recorrente pelo secretário-geral da Casa Branca, John Kelly, tradicionalmente o homem mais próximo ao presidente na “Ala Oeste”, onde está localizado o salão oval. Em uma reunião, Kelly teria afirmado sobre Trump: “É um idiota. É inútil tentar convencê-lo de qualquer coisa (…) Nem sei o que eu estou fazendo aqui. Este é o pior trabalho que já tive”. Oficialmente, Kelly assegurou que jamais chamou o presidente de idiota e reafirmou o seu compromisso com ele.
Documentos perigosos
No polêmico livro há também o relato de quando seu ex-assessor econômico Gary Cohn roubou um documento que encontrou sobre a mesa de Trump, que deveria ser assinado pelo presidente e que revelava sua intenção de retirar oficialmente os Estados Unidos de um acordo comercial com a Coreia do Sul. Cohn teria explicado então a uma pessoa próxima que havia tomado essa atitude em nome da segurança nacional e que o magnata imobiliário nunca se deu conta do desaparecimento do documento.
Os trechos divulgados pelo Washington Post revelam um presidente paranoico que ataca os seus colaboradores com uma violência fora do comum. O procurador-geral, Jeff Sessions, que tem sido alvo recorrente do desprezo presidencial, é um dos que recebe um tratamento impiedoso da parte de Trump. “É um cara retardado. É um imbecil”, teria afirmado a Rob Porter, um de seus assessores.
Imagem de Trump impressiona
O conteúdo do livro de Bob Woodward teve grande impacto na imprensa francesa. A manchete do portal da France Info dizia que Trump “mais parece uma criança” e que é também impulsivo e viciado em Twitter. O jornal Le Monde, falou em “caos na Casa Branca” e o Libération descreveu o relato “assustador” feito sobre o atual presidente americano.
A Casa Branca respondeu dizendo que se trata apenas de “histórias fabricadas”, enquanto o aguardado livro reaviva as pressões contra um presidente cercado por múltiplas investigações e uma eleição de meio mandato que poderia prejudicar o Partido Republicano. “É apenas outro livro ruim”, ressaltou Trump ao Daily Caller, uma publicação conservadora, afirmando que se tratam de “coisas desagradáveis” e “inventadas”. “Ele teve grandes problemas de credibilidade”, disse sobre Woodward, sem dar detalhes sobre essa afirmação.