Com 61 sítios arqueológicos já identificados, o Distrito Federal (DF) tem ainda muito a aprender com a própria história e, em especial, com sua pré-história. Com esse espírito, foi inaugurada hoje (17) a exposição Arqueologia e Habitantes da Pré-História, no Museu de Geociências da Universidade de Brasília (UnB).
Organizada em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a exposição tem dois módulos temáticos. O primeiro, com elementos do patrimônio arqueológico do Distrito Federal, mostra que a região é ocupada há milênios. Entre os itens expostos há artefatos e instrumentos de pedra fabricados há mais de 8,4 mil anos, como machados, picaretas, raspadores, facas, serrotes, amoladores, pesos de rede e pontas de flechas.
“É a primeira vez que estão sendo expostos fragmentos de cerâmicas de vasilhames encontrados no DF, que teve tanto grupos de caçadores-coletores, há cerca de 11 mil anos, como agricultores ceramistas, há cerca de 2 mil anos”, disse à Agência Brasil a arqueóloga do Iphan-DF Margareth Souza.
Segundo Margareth, a exposição marca a passagem da salvaguarda do acervo para o Museu de Geociências da UnB. O acervo servirá também para pesquisas acadêmicas. “A partir do estudo dessas peças, é possível obter informações sobre o processo de povoamento, as rotas de migração, adaptação, tecnologias utilizadas, alimentação, domesticação de plantas para agricultura e plantações”, explicou a arqueóloga.
De acordo com Margareth, o formato das vasilhas, por exemplo, pode indicar quais alimentos eram consumidos e o processo de preparação de alimentos como milho e mandioca. Para a arqueóloga, há muito o que aprender sobre os povos que viviam há séculos ou milênios no DF. “Ainda não sabemos de forma precisa quais grupos viviam aqui no DF, entre negróides e asiáticos”, disse ela. “Precisamos comparar o passado com o presente para prevermos nosso futuro”, acrescentou.
Margareth alertou que a urbanização da cidade precisa levar em consideração a importância dessas descobertas para o conhecimento do ser humano sobre a própria história. Ela informou que uma das metas do Iphan é criar o Museu de Arqueologia no Setor de Habitações do São Bartolomeu. “Esse museu precisa sair do papel porque há muito o que encontrar por ali”, justificou a arqueóloga.
Santa Catarina
O segundo módulo temático da exposição apresenta 173 peças arqueológicas coletadas em Santa Catarina pelo padre e arqueólogo João Alfredo Rohr em sítios localizado nos municípios de Florianópolis, Balneário de Camboriú, Jaguaruna, Laguna, Itapiranga e Urubici. Entre as peças há artefatos que eram usados há cerca de 12 mil anos por grupos de caçadores-coletores e de agricultores vinculados a etnias Tupi-Guarani e Itararé-Taquara e do povo Jê (Xokleng e Kaiangang).
No início dos anos 80, o padre doou o material que havia coletado para o Museu da Academia Nacional da Polícia Federal, em Brasília, com o objetivo de ajudar policiais a reconhecerem peças desse tipo, caso sejam obtidas em meio a operações policiais. Desde 2016, as peças faziam parte da Reserva Técnica do Museu da Academia Nacional da Polícia Federal.
No acervo cedido pelo padre, há o crânio de um indivíduo de mandíbula robusta que, pelas características dentárias tinha uma dieta alimentar com atrito. A partir da reconstrução facial feita no crânio foi possível concluir que o indivíduo tinha ascendência asiática.
A exposição no Museu de Geociências da UnB apresenta também o meteorito de Sanclerlândia, um dos maiores já encontrados no Brasil, com 279 quilogramas – recolhido em 1971 no estado de Goiás.
Edição: Nádia Franco